Entrevistas de JoaQuim Gouveia

30
Nov 13

 

“SÃO OS HOMENS QUE PROVOCAM A CRISE”

 

Jorge Costa é um dos homens que marcou o movimento associativo setubalense nas últimas décadas do século passado. Foi dirigente do Club Naval da cidade ao longo de vários anos. É natural de Castelo Branco, frequentou o ensiono secundário na Covilhã e começou a trabalhar na antiga CUF do Barreiro. Pensa que o Homem estraga o mundo e provoca as crises. Procura ser o mais humano possível e desfruta, nesta altura, de um tempo de descanso e convívio com família e amigos por estar reformado

 

Como foi a sua infância?

Foi uma infância passada na beira interior. Sou de Castelo Branco, onde fiz a escola primária. Não era mau aluno. Tinha muitos amigos com quem brincava bastante. Assisti ao final da 2ª guerra mundial que me marcou muito. Também a guerra civil de Espanha aconteceu quando era miudo. Um dia um avião alemão foi alvejado na fronteira de Espanha e acabou por aterrar em Castelo Branco. Fui uma das primeiras crianças a chegar ao local para o ver de perto. Aquilo foi mesmo um grande acontecimento

 

O primeiro amor…

Não me recordo bem. Deve ter acontecido quando frequentei a escola secundária na Covilhã

 

E o primeiro emprego…

Foi na antiga CUF do Barreiro, como técnico têxtil

Como é a sua casa? Como a define?

É o local onde me sinto muito bem, com conforto e tranquilidade. É uma casa tradicional, cómoda e sem luxos

 

O que pensa do mundo?

O ser humano é que faz o mundo e infelizmente estamos a estragar uma coisa que é nossa. As coisas más como as guerras, a fome e as desigualdades somos nós que as originamos. O ser humano é uma coisa muito subjetiva e as suas atitudes nem sempre são as mais corretas para com o mundo

 

Sente-se realizado humana e profissionalmente?

Sinto-me. Consegui estudar, trabalhar e participar ativamente na sociedade

 

Como se resolve a crise?

Tem que haver boa vontade dos Homens, porque são eles que provocam a crise, ou seja, mais uma atitude que não favorece o mundo

 

Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?

Sou católico e acredito que foi Deus, quem criou o Homem. Não há mundo sem Homem, nem Homem sem mundo

 

Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?

Sinto-me realizado com o que fiz. Acredito que dei o meu melhor em todos os aspetos da minha vida, na casa, no trabalho, no associativismo e nas amizades

 

Que faz no presente e que projectos para o futuro?

Estou reformado e neste momento aproveito o descanso. Passeio e convivo com a minha família e os meus amigos

 

CAIXA DAS PALAVRAS

 

Um destino

Portugal

 

Um livro

Guerra e paz (Leon Tolstói)

 

Uma música

Feelings (Morris Albert)

 

Um ídolo

A minha mãe

 

Um prato

Sardinhas assadas

 

Um conceito

Procurar ser humano o mais possível

publicado por Joaquim Gouveia às 05:25

29
Nov 13

 

“A CRISE RESOLVE-SE COM BOA VONTADE”

 

António Batista é professor e diretor do Agrupamento Vertical de Escolas Luisa Todi. Nasceu numa pequena aldeia junto a Vilar formoso e por ali viu partirem milhares de emigrantes em busca de melhor vida. Teve uma infância feliz com muitas histórias de contrabandistas que deambulavam naquela raia. Acha que o mundo é uma coisa positiva apesar das desigualdades e injustiças. Acredita em Deus e diz que a crise se resolve com a boa vontade dos Homens

 

Como foi a sua infância?

Sou de Malhada Sôrda., uma pequena aldeia que fica no distrito da Guarda, perto de Vilar Formoso. Vivi lá toda a minha infância entre os estudos e as brincadeiras. Era uma vida de campo. Depois fomos para Vilar Formoso que era a fronteira por onde partiam milhares de emigrantes em busca de melhores vidas. Foi uma infância feliz com muitas histórias de contrabandistas

 

O primeiro amor…

Foi uma colega minha. Eu tinha 12 anos. Foi um namoro por cartas. Todos os dias trocávamos palavras de amor

 

E o primeiro emprego…

Em Setúbal como professor na escola nº6 do Monte Belo. Tinha 22 anos e ganhava 18 contos por mês

Como é a sua casa? Como a define?

É um espaço onde passo uma pequena parte do meu tempo mas onde vivo muitos e bons momentos agradáveis

 

O que pensa do mundo?

Acho que é uma coisa positiva com apenas um senão das desigualdades sociais e as diferenças que existem entre países pobres e ricos e onde uns passam fome e outros vivem na opulência

 

Sente-se realizado humana e profissionalmente?

Relativamente. Há muito por fazer e acho que ainda poderei fazer muito para me realizar contribuindo para criar novos horizontes na profissão que adoro que é a de ser professor

 

Como se resolve a crise?

Com a boa vontade dos Homens. Com o empenhamento de todos, independentemente das opções que cada um tiver mas tendo em conta que as pessoas estão em primeiro lugar

 

Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?

Como católico acredito que foi Deus que criou o Homem

 

Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?

Acho que não. As situações vivem-se no momento e conforme as circunstâncias em que as vivemos

 

Que faz no presente e que projectos para o futuro?

Sou director do Agrupamento Vertical de Escolas Luísa Todi e professor. Quero continuar a ser professor para contribuir no desenvolvimento da educação na cidade de Setúbal, de forma a que as crianças e jovens possam desenvolver-se fisíca e intelectualmente contribuindo, assim, com os seus conhecimentos para enriquecer a vida do nosso concelho

 

CAIXA DAS PALAVRAS

 

Um destino

Serra da Arrábida

 

Um livro

Corpos e almas

 

Uma música

Balada de Outono (José Afonso)

 

Um ídolo

Os meus pais

 

Um prato

Bucho de porco da Beira Alta

 

Um conceito

Proporcionar ás crianças e jovens todos os meios de aprendizagem para se desenvolverem harmoniosamente

publicado por Joaquim Gouveia às 04:55

28
Nov 13

 

“NÃO RECONHEÇO O MEU PAÍS”

 

Miguel Assis é ator do Teatro de Animação de Setúbal e professor na secundária da Amora. Hoje voltaria a escolher a sua profissão mas com um plano “b”, como diz pela instabilidade a que está constantemente sujeito. Diz não reconhecer o mundo nem o país onde vive e tem dificuldade em aceitar que passados, praticament,e 40 anos sobre Abril de 74, o país ainda viva em crise. Acredita em Deus, por conformismo porque é bom pensar que a vida não acaba aqui. Está a preparar a “ÓPera do malandro” para apresentar em Setúbal, com um elenco fabuloso

 

Como foi a sua infância?

Foi feliz. Sou da margem Sul, da zona Amora/Seixal, que tem uma cultura urbana muito própria. Sou da geração em que se podia ir para a rua e para a escola sózinho. Ainda tenho muitos amigos dessa época. Gostei bastante desses tempos

 

O primeiro amor…

Era a Cila, de quem fui padrinho de casamento. Andava com uma camisa com gola de marujo e uma mala de cabedal. Tinha o cabelo da cor do mel. Não me ligava nenhuma. Só a namorei aos 17 anos, mas desde os 10 que gostava dela

 

E o primeiro emprego…

No Teatro de Animação de Setúbal, como estagiário aos 20 anos. Bati à porta do Carlos César. Já passaram 21 anos. Nessa altura ganhava 19 contos e passado um ano já ganhava 150

Como é a sua casa? Como a define?

É pequena para não ter que arrumar muito. É tipo abrigo. Sei que ali estou seguro. É acolhedora e agradável. Está decorada à homem. Para mim casa é para morar e carro é para andar

 

O que pensa do mundo?

É uma coisa que não reconheço, um lugar muito estranho. Também não reconheço o meu país. Nunca pensei que passados estes 40 anos sobre o 25 de Abril, não tenhamos andado nada para a frente. É tudo muito frágil. Andamos todos desesperados. Isto está assustador. As pessoas sentem de novo a necessidade de cantar o “Grândola Vila Morena”

 

Sente-se realizado humana e profissionalmente?

Não. Humanamente falta-me plantar a árvore, ter os filhos e escrever o livro... Profissionalmente gosto do que faço mas nem sempre faço aquilo que gosto. Resta-me a grande alegria de ter os meus pais vivos.

 

Como se resolve a crise?

Acho que com boa vontade e isso até nem falta ao povo. Falta sim aos nossos governantes. Os ricos estão cada vez mais ricos e a classe média está cada vez mais pobre. Penso que isto se resolve com equilíbrio e boa vontade

 

Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?

Eu gosto de acreditar que foi Deus que criou o Homem, mas esta crença tem a ver com o meu conformismo. É bom acreditar que isto não acaba aqui e isso reconforta-me

 

Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?

Muita coisa. Tinha escolhido a mesma profissão mas com um plano “b”, porque é uma profissão muito instável. A cultura é sempre vitima de cortes brutais em tempos de crise. Fazem passar a imagem de que a cultura é supérflua e desnecessária. Mas a cultura é a própria história do povo

 

Que faz no presente e que projectos para o futuro?

Dou aulas de teatro na Escola Secundária da Amora e sou ator do TAS. Tenho um projeto para 2014, que é a encenação da “Ópera do Malandro”, do Chico Buarque, para Setúbal, com estreia marcada para 24 de Outubro. Tenho um elenco fabuloso

 

 

CAIXA DAS PALAVRAS

 

Um destino

Brasil

 

Um livro

Amor nos tempos de cólera (Gabriel G. Marquez)

 

Uma música

Valsinha (Chico Buarque)

 

Um ídolo

Salgueiro Maia

 

Um prato

Arroz de marisco

 

Um conceito

Cada dia é um dia

 

 

publicado por Joaquim Gouveia às 05:35

27
Nov 13

 

“HÁ FALTA DE ESPÍRITO HUMANISTA”

 

Isaurindo Abegão, nasceu em Estremoz, mas diz-lhe filho de Setúbal desde há 64 anos. O seu primeiro amor aconteceu aos 16 anos e no seu primeiro emprego aprendeu os segredos do electricista-auto. Diz que o mundo é a maior desilusão que um ser humano pode ter e como é judeísta acredita que o Homem é criação de Deus, embora admitindo que existem “más obras”. Durante muitos anos desenvolveu atividade no ramo da mediação imobiliária. Hoje está reformado e aproveita o tempo para conviver com os seus amigos. Se pudesse voltar atrás mudaria tudo na sua vida

 

Como foi a sua infância?

Foi muito feliz. Sou alentejano, nasci em Estremoz e sou filho de Setúbal, há 64 anos. Vim para cá com sete anos de idade. A minha mãe era criada de servir em casa do Governador Civil e eu vivi à custa das esmolas que me davam todos os dias e que era um almoço e um jantar. Fiz a escola primária ainda em Estremoz

 

O primeiro amor…

Chamava-se Julieta e era irmã de um amigo meu. Eu tinha 16 anos. Foi um namoro que ainda durou bastante tempo até ter conhecido a minha mulher

 

E o primeiro emprego…

Nas oficinas do Custódio & Sérgio. Era aprendiz de eletricista-auto e ajudante do conhecido Rogério Ângelo. Ganhava sete escudos e cinquenta por semana

Como é a sua casa? Como a define?

É um apartamento arrendado. É a casa de um português pobre onde passa a maior parte do seu tempo.

 

O que pensa do mundo?

È a maior desilusão que um ser humano pode ter. Há muita falta de espírito humanista. As pessoas são escravas de uma sociedade muito pouco societária

 

Sente-se realizado humana e profissionalmente?

A realização é uma meta inatingível. Aprendemos todos os dias que o tempo não está acabado. Penso que não há ninguém realizado

 

Como se resolve a crise?

Com desenvolvimento sustentável, emprego, trabalho e rigor e a não eliminação dos ricos mas sim a eliminação da pobreza e da miséria. Através de um socialismo tipo Champalimaud, em que ninguém precisa de ninguém e todos tenham o suficiente. Tão rico é o que lhe sobra como aquele que lhe basta  

 

Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?

Deus criou o Homem. Sou judeísta. O Homem é uma criação de Deus, que não tem culpa de, por vezes, ter feito uma má obra

 

Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?

Mudaria tudo. Faria tudo aquilo que não fiz e rejeitaria fazer muita coisa que fiz

 

Que faz no presente e que projectos para o futuro?

Estou reformado. O meu tempo é dedicado à leitura, ao convívio com os meus amigos e à dádiva à sociedade a que pertenço. O valor amizade é um pilar na minha vida. Sou um homem livre e de bons costumes e a obra não está completa enquanto cá andamos

 

CAIXA DAS PALAVRAS

 

Um destino

Israel

 

Um livro

As três irmãs chinesas

 

Uma música

Os índios da meia praia (José Afonso)

 

Um ídolo

Martin Luther King

 

Um prato

Todos

 

Um conceito

Não queiras para ti o que desejas aos outros

publicado por Joaquim Gouveia às 09:22

26
Nov 13

 

“VIVO UM DIA DE CADA VEZ”

 

Pedro Simões pertence à família da Casa Agrícola Horácio Simões, que há mais de um século produz vinhos de qualidade na Quinta do Anjo. Ali nasceu e foi criado admitindo que esta atividade sempre o fascinou mantendo-se a ela ligado mesmo que lhe saísse o euromilhões. Não teve um primeiro amor e a sua casa é o refúgio onde se desliga do mundo para descansar. Vive um dia de cada vez e porque é otimista acredita que o dia seguinte será sempre melhor. Adora a cozinha moderna portguesa

 

Como foi a sua infância?

Sou nascido e criado aqui na adega. Foi uma infância normal de um gaiato que acompanhou o pai e o avô no campo e na adega. Na escola fui um aluno razoável. Sempre pensei desde miudo que era a tradição de família que queria seguir. Tinha muitos amigos e brincávamos bastante com muita segurança. No fundo estávamos numa aldeia como é a Quinta do Anjo

 

O primeiro amor…

Nunca tive grandes paixões devido a ter estudado fora durante cerca de 6 anos e ter cumprido o serviço militar. Acabei por não ter propriamente o primeiro amor

 

E o primeiro emprego…

Quando acabei a escola agrícola e a tropa, trabalhei na Arcolsa, para me inteirar das realidades agro-pecuária e de óvinos para montar um projeto meu de exploração de óvinos autóctones da nossa região que era a ovelha saloia. Consegui o maior núcleo de ovelhas particular do país. Depois tive uma queijaria de queijos de Azeitão de ovelhas saloias

Como é a sua casa? Como a define?

É acolhedora onde me sinto bem. Passo lá pouco tempo mas quando lá estou tenho de desligar-me de tudo o resto

 

O que pensa do mundo?

Tenho a certeza de que se não andássemos a enganarmo-nos uns aos outros isto estaria muito melhor. Não tenho uma visão negativa do mundo. Vivo um dia de cada vez e penso que o que vem a seguir há- de ser melhor do que o anterior

 

Sente-se realizado humana e profissionalmente?

Sim. Sinto que quero fazer mais e melhor e luto por isso todos os dias. Quando peguei nesta casa agrícola tinha uma ideia que se modificou ao longo dos tempos, mas vamos tentando melhorar e inovar cada vez mais e melhor

 

Como se resolve a crise?

Com ideias inovadoras, trabalho e empenho. Temos que remar todos para o mesmo lado para o barco chegar a bom porto

 

Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?

Tive uma educação de católico praticante. Acredito em muitas coisas mas não em tudo. Tenho a plena convição que foi o Homem quem criou Deus, porque tenho que acreditar nalguma coisa para andar para a frente. Temos que ver que já havia vida antes do Deus que nos tem sido apregoado e as pessoas acreditando nele conseguem fazer o bem. No fundo há vários deuses conforme as religiões e ideologias

 

Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?

Concerteza que sim. Só os burros é que não mudam. Cada dia que passa aprende-se qualquer coisa de novo. Todos fazemos asneiras

 

Que faz no presente e que projectos para o futuro?

Sou administrador da Casa Agrícola Horácio Simões. No futuro, projeto que me saia o euromilhões. Se isso acontecesse continuava a investir nesta Casa. Tenho muitos outros projetos todos eles relacionados com esta área da vitivinicultura

 

 

CAIXA DAS PALAVRAS

 

Um destino

Um que não conheça

 

Um livro

Só livros técnicos

 

Uma música

Casal Garcia (Despe e Siga)

 

Um ídolo

Não tenho

 

Um prato

Cozinha moderna portuguesa

 

Um conceito

Trabalhar todos os dias

 

 

publicado por Joaquim Gouveia às 08:06

25
Nov 13

 

“O MUNDO DÁ MUITO QUE PENSAR”

 

Albano Almeida é uma das mais conhecidas figuras da música setubalense. É musicólogo e músico e a sua experiência é tão vasta que, como viola, já acompanhou quase todos os artistas da cidade. Teve uma infância feliz e recorda que o seu primeiro amor durou até ir para a tropa. Acha que o Homem, criou Deus, no pensamento. Preocuapa-se com as guerras e as cenas terríveis como as que vimos com os refugiados de Lampedusa. Para si o mais importante é a amizade. Jacinto João, do Vitória de Setúbal é o seu ídolo

 

Como foi a sua infância?

Foi muito feliz. Sou natural de Lisboa, mas vim para Setúbal com 5 anos. Foi uma infância com pai, mãe, irmãos e amigos. Tive muita brincadeira. Íamos ao banho na doca dos pescadores e jogávamos â bola nas traseiras do Quartel do 11

 

O primeiro amor…

Tinha 15 anos. Foi uma paixão forte que ainda durou alguns anos até eu ir para a tropa

 

E o primeiro emprego…

No Hotel Esperança, onde o meu pai trabalhava como cozinheiro. Era gourmet-porteiro. Ganhava muito dinheiro em gorjetas

Como é a sua casa? Como a define?

É o meu refúgio. É uma casa simples com duas assoalhadas onde moro com o meu filho. É um apartamento acolhedor e muito agradável. A decoração da sala é feita com violas e fotos da malta da música

 

O que pensa do mundo?

Nos dias que correm dá muito que pensar. O mundo está muito complicado. O drama de Lampedusa e outros do género são horríveis. Eles, coitados, fogem da fome e muitas vezes morrem afogados antes de chegarem ao destino. As guerras como a da Síria, também preocupam. Alguém está a engordar à conta disto.

 

Sente-se realizado humana e profissionalmente?

Profissionalmente procuramos sempre mais e melhor. Em termos humanos estamos sempre a aprender

 

Como se resolve a crise?

Não pode ser resolvida á custa dos mais pobres como estão a tentar fazer. Os mais ricos não querem abdicar das suas margens de lucro. Assim é complicado. Tem que haver equidade na contribuição para acabar com a crise e isso não está a acontecer

 

Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?

Acho que o Homem criou Deus, no pensamento. Temos essa necessidade de acreditar em algo que nos transcenda. Mas também é isso que nos move

 

Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?

No essencial deveria ser um pouco mas diplomata nas minhas ações. De resto não mudaria mais nada. Tenho os meus ideais, as minhas causas e os meus amigos

 

Que faz no presente e que projectos para o futuro?

Sou assistente técnico na Câmara Municipal de Setúbal. Estou colocado no Museu do trabalho. Sou ainda viola no fado nos meus tempos livres. Num futuro imediato estou a preparar uma grande exposição de instrumentos musicais populares portugueses

 

CAIXA DAS PALAVRAS

 

Um destino

Brasil

 

Um livro

Crónica de uma morte anunciada (Gabriel G. Marquez)

 

Uma música

Era um redondo vocábulo (José Afonso)

 

Um ídolo

J.J. (Jacinto João)

 

Um prato

Chocos guisados

 

Um conceito

Amizade

publicado por Joaquim Gouveia às 14:08

23
Nov 13

 

“UM POR TODOS E TODOS POR UM”

 

O Dr. Arnaldo Marques da Silva é um reconhecido advogado de Palmela. Homem ligado ao movimento associativo da vila já plantou várias árvores e diz que apenas lhe falta escrever o livro para se sentir um homem plenamente realizado. Não tem uma visão filosófica do mundo que acredita que é sempre bom. É católico e isso permite-lhe acreditar, através da sua fé, que Deus é o criador. Pensa que a crise resolve-se por ela própria. Apenas teremos de esperar

 

Como foi a sua infância?

Nasci em Lisboa. Depois a minha família foi morar para o Pombal. Foi uma infância feliz e ao mesmo tempo difícil. Os meus pais foram emigrantes. Para ir para a escola tinha de ir a pé. Frequentei também alguns colégios. Fui sempre o melhor aluno na primária. Ainda hoje algumas das minhas grandes amizades foram feitas nessa altura

 

O primeiro amor…

Não houve ninguém especialmente marcante. Tinha uma relação mais de amizade com as raparigas. Quando decidi namorar, casei

 

E o primeiro emprego…

Servente de estucador nas férias, no Cacém e ganhava 95 escudos por dia, em 1970. Fui professor do ensino secundário a partir dos 18 anos

Como é a sua casa? Como a define?

É um apartamento em Palmela, de que apenas me sirvo para morar

 

O que pensa do mundo?

Não tenho do mundo uma opinião filosófica. O mundo é uma passagem. A frase «no meu tempo é que era bom» está associada a todas as gerações e não é por isso que o mundo acaba. No fundo isso significa que o mundo é sempre bom; é feito como é em cada momento pelas pessoas de cada época

 

Sente-se realizado humana e profissionalmente?

Sim. Em termos profissionais sinto-me realizado. No aspeto humano só me falta escrever um livro. Já plantei muitas árvores e uma teve um significado especial. Foi plantada em Palmela, no jardim em frente à rodoviária enquanto fui presidente do Rotáry Club desta vila

 

Como se resolve a crise?

Resolve-se com solidariedade institucional através do lema “um por todos e todos por um”. No entanto acho que a crise se vai resolver a ela própria com o tempo. É uma questão de esperarmos

 

Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?

Deus criou o Homem. Sou católico. As coisas não nasceram por si próprias. Há um criador. Isso descobri através da minha fé

 

Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?

Muito. Depende no entanto de uma série de circunstâncias. Sou daqueles que discorda dos que dizem que não mudavam nada. Isso é sinal de que as pessoas não reconhecem os seus erros nem as suas limitações

 

Que faz no presente e que projectos para o futuro?

Sou advogado e vice-presidente da Associação dos Bombeiros Voluntários de Palmela. Tenho projetos ao nível da formação profissional em Portugal e no estrangeiro e estou a escrever dois livros, um sobre direito e outro que ainda não revelo

 

CAIXA DAS PALAVRAS

 

Um destino

Paris

 

Um livro

Os Mais (Eça de Queirós)

 

Uma música

Je t‘aime moi non plus (Jane Birkin & Serge Gainsbourg)

 

Um ídolo

Eusébio

 

Um prato

Cozido à Portuguesa

 

Um conceito

Uma vez perguntaram-me o que é ser-se honesto. Respondi: aquilo que gostava de poder ser todos os dias. Noutra ocasião pediram-me que definisse solidariedade. Respondi: é na prática que  se define

 

 

publicado por Joaquim Gouveia às 04:20

22
Nov 13

 

“A RIQUEZA ESTÁ MAL DISTRIBUÍDA”

 

Benjamim Carvalho é um antigo sindicalista nascido na raia da zona de Castelo Branco. Começou a trabalhar aos 13 anos, como marçano, em Lisboa e tem do mundo a idéia de que é contraditório. Para si a crise resolve-se com a distribuição da riqueza e com a ajuda dos países mais ricos em favor dos mais desfavorecido. Já foi mais crente mas acredita que foi Deus quem criou o Homem. “Os Maias”, de Eça de Queirós é um dos seus livros de eleição

 

Como foi a sua infância?

Nasci no interior do país, em Alcafozes, na zona raiana de Castelo Branco. Até aos 8 anos fui filho unico. Eramos uma família com uma vida razoável. Tive uma excelente professora na escola primária com quem aprendi muitas lições de vida, para além da aprender a ler e a escrever. Não brincava muito porque a minha mãe era bastante exigente comigo

 

O primeiro amor…

Não me recordo bem. Penso que foi uma moça de Cacilhas, com quem namorisquei durante algum tempo. Foi uma paixão passageira

 

E o primeiro emprego…

Num estabelecimento comercial em Lisboa. Era marçano, estava ao balcão. Não me lembro  de quanto ganhava

Como é a sua casa? Como a define?

É uma casa que reúne as condições para ser agradável e tranquila no bairro da Azeda, que é bastante calmo

 

O que pensa do mundo?

Tem muitas contradições. Se estivesse bem dividido não havia tantos pobres. Estraga-se muita alimentação e dinheiro e a riqueza está mal distribuída

 

Sente-se realizado humana e profissionalmente?

Profissionalmente estou realizado. Muitas das atividades em que estive envolvido abrangiam uma envolvência de cidadania. Como homem sinto-me razoavelmente realizado

 

Como se resolve a crise?

A crise nacional resolve-se com políticas que aumentem a riqueza produzida de forma a aumentar as receitas do estado para haver melhores serviços públicos e melhores condições de vida dos cidadãos. A crise mundial passa pelos países mais ricos contribuirem para os mais pobres e pelas políticas que tenham como primeira prioridade o cidadão

 

Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?

Já fui mais crente e com maior envolvência na crendice. Hoje tenho algumas interrogações pela injustiça e desigualdade. No entando estou convencido que foi Deus que criou o Homem, embora não tenha certezas

 

Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?

Sim. Mudava muita coisa. Deixava de acreditar tanto nalguns Homens. Prestaria mais atenção a algumas coisas em que estive desatento e daria mais atenção à minha família

 

Que faz no presente e que projectos para o futuro?

Sou um cidadão reformado com uma reforma que resulta apenas dos meus descontos efetuados. Colaboro nalguns programas da Rádio Jornal de Setúbal. Gostava de montar uma atividade na terra onde nasci

 

CAIXA DAS PALAVRAS

 

Um destino

Rússia

 

Um livro

Os Maias (Eça de Queiroz)

 

Uma música

Povo que lavas no rio (Amália)

 

Um ídolo

O meu avô materno

 

Um prato

Cozido à Portuguesa

 

Um conceito

Honestidade

publicado por Joaquim Gouveia às 02:25

21
Nov 13

 

“ESTAMOS A VOLTAR AO TEMPO DA OUTRA SENHORA”

 

Helena Mendes é professora de música e acordeonista na Banda do Andarilho. Preferia ter um grande banda musical para atuar para milheres de pessoas a sair-lhe o euromilhões. Tem do mundo uma imagem negativa e deixou de acreditar em Deus, após a morte do irmão, ainda jovem. Se pudesse colocava alguém no Governo, sem mácula e com novas perspetivas. Está desempregada e tem muitas saudades dos seus alunos. O seu ídolo é Álvaro Cunhal

 

Como foi a sua infância?

Nasci na casa onde os meus pais moravam no antigo bairro Carmona, hoje bairro Afonso Costa. Tinha muitos amigos com quem brincava bastante. Fui boa aluna na escola. Quando eu e o meu irmão nos zangávamos íamos logo para a cama. Era uma regra entre nós. Quando o meu pai chegava a casa e nos via deitados já sabia o que tinha acontecido

 

O primeiro amor…

Foi na escola primária com um rapaz que se chamava Coelho. Foi um namoro de beijinhos e do jogo do bate pé

 

E o primeiro emprego…

Como professora de música na escola Preparatória de Bocage. Tinha 18 anos. Já nem me recordo de quanto ganhava nessa altura

Como é a sua casa? Como a define?

É uma casa acolhedora, onde gosto de estar. Está decorada à minha maneira com a ajuda do decorador setúbalense João Maria

 

O que pensa do mundo?

Está virado do avesso. Estamos a voltar ao tempo “da outra senhora”. Isto está complicado com muitas guerras, terrorismo, injustiças, fome e desigualdades. Tenho uma imagem muito negativa do mundo

 

Sente-se realizado humana e profissionalmente?

Profissionalmente gostava de fazer mais coisas. Adorava ter uma banda para tocar para milhares de pessoas. Preferia isso ao euromilhões. Como pessoa sinto-me realizada, como mãe, mulher, amiga e companheira. Acho que sou uma boa pessoa

 

Como se resolve a crise?

Se mandasse colocava alguém no poder que nunca tivesse estado por lá. Acho que deveriamos dar oportunidade a pessoas com outras ideias e perspectivas. De resto não tenho solução para a crise

 

Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?

Já não acredito em Deus. Após a morte do meu irmão fiquei muito revoltada. Era um jovem. Se Deus, só faz coisas bem feitas como dizem, deve andar muito distraído. No entanto acho que há qualquer coisa, talvez uma energia que nos move. Se isso é Deus não sei. Sou batizada mas não vou à igreja nem à missa

 

Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?

Acho que não. Voltava a fazer tudo como até aqui

 

Que faz no presente e que projectos para o futuro?

Estou desempregada. Sou professora de música desde os meus 18 anos e este ano não fui colocada. Sou membro da Banda do Andarilho. No futuro quero voltar a dar aulas e continuar a tocar. Tenho saudades dos alunos

 

CAIXA DAS PALAVRAS

 

Um destino

Amesterdão

 

Um livro

Principezinho (Antoine de Saint-Exupéry)

 

Uma música

Era um redondo vocábulo (José Afonso)

 

Um ídolo

Alvaro Cunhal

 

Um prato

Bacalhau com natas

 

Um conceito

Felicidade

publicado por Joaquim Gouveia às 06:51

20
Nov 13

 

“O MUNDO ESTÁ CEGO DE UM OLHO”

 

Rui Mesquita é filho de um maestro consagrado. No entanto não teve uma infãncia perto do pai que só via de longe em longe. Foi uma infância pobre e difícil. Namoriscou uma rapariga de Benfica e compreendeu o que custa a paixão quando o pai da moça o sovou. Acha que o mundo está doente e que foi o Homem quem criou Deus, admitindo que Deus é capaz de tudo. Não se consegue abstrair do mundo que o rodeia porque a fome e as injustiças o incomodam. Gostava de viajar até Angola e rever as suas origens

 

Como foi a sua infância?

Muito complicada e muito pobre. Nasci em Angola e vim para o continente com 3 meses de idade. Sou filho de um maestro consagrado (José Mesquita), que devido à sua atividade internacional só o via de 5 em 5, ou 10 em 10 anos. Fui criado pelos meus avós paternos. Comecei a trabalhar muito cedo. Não tive tempo para brincar

 

O primeiro amor…

Foi com uma filha de uma vizinha em Benfica, mas acabou depressa porque o pai dela deu-me uma sova. Tinha 14 anos e nunca mais esqueci este episódio

 

E o primeiro emprego…

Aos 10 anos numa mercearia das antigas. Era marçano. Entregava as compras na casa das pessoas. Ficava no Calhariz de Benfica. Mantive-me sempre a estudar à noite. Estive na escola Veiga Beirão, onde tirei o curso Comercial

Como é a sua casa? Como a define?

É o meu buraco. Onde tenho os meus livros, os meus jogos e os meus vídeos. Tem uma decoração minimalista com linhas direitas. Já não tenho espaço para mais nada. Tenho à volta de 700 jogos da playstation

 

O que pensa do mundo?

Acho que está doente. Como diz o Chico Buarque o mundo está cego de um olho. Os homens não respeitam o mundo em que vivem, destroem-no do ponto de vista fisico e moral. A moralidade é muito baixa. Não se respeita nada. O unico critério que vale é ter dinheiro. O mundo é egoísta e fútil

 

Sente-se realizado humana e profissionalmente?

Profissionalmente sim. Como homem não. Não me consigo abstrair do mundo que me rodeia, da fome, das injustiças, dos desempregados. Não me consigo desligar dessa realidade. Mas adoro viver

 

Como se resolve a crise?

Alterando os conceitos pelos quais a sociedade se rege. Isto resolve-se através da compreensão, amizade, partilha, fraternidade, liberdade e respeito pelo próximo. Temos que redescobrir os valores através da sabedoria

 

Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?

Acho que foi o Homem e ainda bem porque Deus é capaz de tudo... sou uma pessoa profundamente religiosa. Fui batizado nos sítios dos orichás, no Brasil. Sou filho de Ogun. A religião é uma árvore com muitos ramos mas é só uma. A maior caracteristica de Deus é a sua impassividade.

 

Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?

Muitas coisas, sobretudo as faltas de amor. Houve quem me desse coisas muito boas e a quem lhes faltou o meu reconhecimento

 

Que faz no presente e que projectos para o futuro?

Estou aposentado da função publica, no ramo da cultura. Sou escritor, pintor, leitor, viajante e um bom avô. Estou a escrever um novo espetáculo para Setúbal, no futuro imediáto

 

CAIXA DAS PALAVRAS

 

Um destino

Angola

 

Um livro

A ilha (Aldus Huxdy)

 

Uma música

Concerto para harpa e flauta (Mozart)

 

Um ídolo

Papa Francisco

 

Um prato

Sardinhas Assadas de Setúbal

 

Um conceito

A unica coisa certa é a morte

publicado por Joaquim Gouveia às 02:47

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