Com o apoio “HOTEL DO SADO”
“JÁ TIVE MELHOR OPINIÃO DO MUNDO”
José Maria Dias é um homem desde sempre apaixonado pela arte de Talma. A sua casa é o teatro e até pensa abdicar da sua condição de professor do ensino secundário para se dedicar em exclusivo à companhia onde é diretor artístico. Nasceu em Alcáçovas, no Alentejo mas sente-se cidadão de Setúbal. Começou a trabalhar ainda jovem numa oficina que montava mobiliário em tubo para os cafés. Tem a ideia de que o mundo é uma bola em movimento e, por isso, volvidos 40 anos voltámos ao 24 de Abril de 74. Sente-se um homem realizado e feliz. É ateu e acha que a crise deveria de ser para todos
Como foi a sua infância?
Sou alentejano. Nasci em Alcáçovas mas vim para Setúbal, tinha 6 anos e por isso considero-me cidadão desta cidade. No alentejo tive uma infância feliz e despreocupada. Tenho algumas memórias de brincadeiras com amigos que nunca mais vi mas que recordo os seus nomes. As memórias mais fortes são as da infância que vivi já em Setúbal, nas Manteigadas. Não havia luz elétrica e a estrada não era totalmente alcatroada. Fomos estrear uma vivenda que era alugada a um trabalhador da SAPEC. Andei na escola primária das Praias do Sado. Ía e vinha a pé pela Baixa de Santas. Era um bom aluno.
O primeiro amor…
Foi a minha mulher. Tive alguns namoricos mas nada consequente.
E o primeiro emprego…
No Zé do Porto, na rua João Elóy do Amaral, a fazer mobiliário de tubo para os cafés nas férias. Tinha 14 anos e ganhava 50 escudos por semana.
Como é a sua casa? Como a define?
Passo mais tempo no teatro que na minha casa. No entanto a casa é o sitio que me descomprime. É uma casa confortável e muito agradável.
O que pensa do mundo?
Não penso as melhores coisas. Já tive melhor opinão do mundo. Tinha 16 anos quando se deu o 25 de Abril de 74. Na altura já tinha noção de algumas coisas. Sabia o que era o fascismo por linhas tortas. Sabia que quem estivesse conotado com o comunismo passava por muitas implicações. Felizmente também já tinha uma idade que me fez participar no 25 de Abril, ativamente, e isso fez-me acreditar num país que no futuro seria um mar de rosas. Volvidos 40 anos voltámos ao mesmo nível do 24 de Abril. Afinal o mundo é uma bola em movimento que não sái do mesmo lugar.
Sente-se realizada humana e profissionalmente?
Considero que sim. Humanamente tenho tido aquilo que desejei. Sou feliz, encontrei a estabilidade ao lado da minha mulher e do meu filho. Profissionalmente estou perto da realização. Tem sido uma luta constante mas ao mesmo tempo aliciante.
Como se resolve a crise?
E onde é que está a crise? A crise é para todos? Eu estou na zona de crise mas há indivíduos que até estão a prosperar. Os que estão em crise têm que ser solidários e inverter a situação. A crise deve ser para todos.
Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?
Sem dúvida que foi o Homem quem criou Deus. Sou ateu.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Mudava. Tinha estudado mais quando era mais novo e licenciava-me mais cedo.
Que faz no presente e que projectos para o futuro?
Sou encenador e diretor artístico do Teatro Estudio Fonte Nova e do Festival Internacional de Teatro de Setúbal. Para além disso sou professor de teatro na Escola Secundária Sebastião da Gama. No futuro pretendo continuar as minhas atividades. Talvez possa deixar de ser professor para me dedicar em exclusivo ao teatro.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino
Londres
Um livro
O diabo é um aborrecimento (Peter Brook)
Uma música
A mulher da erva (José Afonso)
Um ídolo
Não tenho
Um prato
Sardinha assada
Um conceito
Amor