“ESTÁ NA MÃO DO HOMEM CONSTRUIR UMA SOCIEDADE MELHOR”
Américo Pereira esteve desde sempre ligado ao movimento cultural da região como diretor de teatro, encenador, ator, e cantor. Teve uma infância difícil oriundo de uma família muito humilde onde se contam seis irmãos. Começou por trabalhar no escritório de uma serralharia depois de concluído o curso comercial. A sua casa é um local construído para que ele e a sua famíla vivam em conforto e em tranquilidade e onde projeta maior parte da suas atividade intelectual. O mundo deveria ser um lugar onde o Homem seria feliz mas tem consciência que a ambição pelo Poder destrói esse sonho. Para si a crise resolve-se com medidas eficazes no controlo das grandes fortunas e dos investimentos duvidosos. Acredita num ser superior que criou o universo. No futuro irá realizar uma exposição individual de pintura
Como foi a sua infância?
Nasci em Alcácer do Sal, mas vim para Setúbal, com apenas 6 meses de idade e, por isso, considero-me setubalense. Tive uma infância que poderia ter sido melhor se a sociedade em que vivi na altura não fosse tão fechada e não desse tão poucas possibilidades aos mais desprotegidos e pobres. Sou oriundo de uma família muito humilde. Éramos 6 irmãos. Na altura as brincadeiras eram muito inocentes. Andei na antiga escola do Sousa. Nunca fui um bom aluno mas tive uma professora, a Irene Ferreira, que me marcou muito pela forma positiva com que didaticamente lidava com os alunos.
O primeiro amor…
Aconteceu muito tarde e foi com a minha mulher. Eu era extremamente tímido e o meu relacionamento pecava por isso. Quando era mais novo limitava-me à troca de bilhetinhos e de olhares com as raparigas.
E o primeiro emprego…
Como empregado de escritório na serralharia Jordão, que ficava onde hoje está a loja de calçado “O Guimarães”. Já tinha o curso comercial. Ganhava 800 escudos por mês.
Como é a sua casa? Como a define?
É um lugar onde me sinto bem, construído para mim e para a minha família passarmos os dias com conforto e tranquilidade. As nossas casas são sempre o nosso refúgio. É lá que desenvolvo toda a minha actividade intelectual.
O que pensa do mundo?
Poderia ser um lugar maravilhoso onde o Homem, se deveria sentir feliz. Mas a febre do Poder destrói tudo aquilo que deveria preservar como o meio ambiente e as ambições pessoais de cada um. Tenho uma ideia bastante negativa do mundo porque o Homem despreza determinados valores em função de outros mais negativos. No entanto, está na mão dos próprios Homens, construírem uma sociedade melhor começando logo pelas relações mais próximas com os amigos e familiares.
Sente-se realizado humana e profissionalmente?
Acho que nenhum ser pensante se sente completamente realizado. Haverá áreas onde se sentirá mais satisfeito, outras que gostaria de atingir e, sobretudo, por se sentir que a vida é tão curta que não nos possibilita concretizar todos os objectivos que estão na sua mente.
Como se resolve a crise?
Existência de uma maior concertação dos países do Sul, de forma a fazer frente às exigências dos países, de grande poder económico, como a Alemanha e seus aliados do Norte. Aplicação de maiores taxas, nas transações bolsistas, por parte do sector bancário e também nas grandes fortunas existentes no país. Revisão e eventuais rescisões de algumas parcerias público-privadas, cuja utilidade é muito duvidosa. Existência de um Governo que privilegie políticas sociais que faça aumentar o consumo por parte da população, levando as empresas ao aumento de produção e ao consequente aumento de empregos. No entanto, tudo isto é muito condicionado pela políticas económicas globais, que dominam o Mundo.
Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?
Penso que existe um ser superior que determinou todo o universo no qual estamos inseridos. A esse ser poder-se- á dar os mais variados nomes conforme as diversas religiões. O maior mistério que o Homem tem enfrentado e que há-de permanecer é o entendimento da sua criação e do mistério de todo o universo.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Ao longo da vida existiram aspetos menos positivos que alguns não gostaria de ter vivido. Mudar erros realizados não sei se seria proveitoso na medida que com eles também aprendemos.
Que faz no presente e que projectos para o futuro?
A minha atividade ao longo da vida foi muito diversificada. Já em adulto e a trabalhar tirei o curso de sociologia e trabalhei como técnico no IEFP e, posteriormente, como professor nas áreas sociais. Estive à frente do Grupo de Teatro Presença, durante 15 anos, como encenador e ator. Fui animador cultural do Inatel, durante 20 anos. Dei aulas de teatro na secundária de Bocage. Atualmente dou aulas na Universidade Sénior de Setúbal nas áreas da história da pintura e pintura contemporânea. Com alguma frequência realizo sessões de poesia e canto. Muito proximamente irei realizar uma exposição individual de pintura.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino
Um país tropical
Um livro
Platero e eu (Juan Ramon Jimenez)
Uma música
José Afonso
Um ídolo
O meu filho
Um prato
Sardinhas assadas
Um conceito
Não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti
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