Com o apoio: “HOTEL DO SADO”
“O MUNDO É UMA DESILUSÃO CIVILIZACIONAL”
Raul Tavares é diretor do semanário “Semmais” e jornalista desde sempre. Iniciou a sua carreira nos tempos da candidatura de Mário Soares, à presidência da República, no gabinete de imprensa do MASP. Nasceu em Sesimbra e teve uma infância feliz, protegida por uma família gigante com 9 irmãos. É originário de gente ligada ao mar. Foi ele quem levou a notícia da revolução de Abril, para casa. A sua primeira paixão foi com uma espanhola. Para si o mundo é uma desilusão civilizacional e a crise resolve-se quando a justiça dos valores for reposta. Acredita que há um poder divino pela crença e pela cultura da fé mas, para si não está provada nenhuma teoria sobre Deus e a criação do Homem. Ao 50 anos sente a cabeça a fervilhar de ideias. Pretende consolidar e ampliar a sua marca com novos projetos no futuro imediato.
Como foi a sua infância?
Nasci em Sesimbra. Sou originário de gente ligada ao mar. O meu avô foi o primeiro banheiro do distrito de Setúbal, no Portinho da Arrábida e foi capitão de salva-vidas conhecido pelo “lobo do mar”. O materno, era ‘fogueiro’, na marinha mercante. Foi uma infância feliz, muito protegida por uma família gigante com 9 irmãos. Tenho a genética da mãe, ligada à justiça e à sensibilidade social. E devo ter herdado do pai, que também fez jornalismo, o bichinho do associativismo. Fui um aluno razoável. Lembro os jogos de rua da época, com a praia e o mar sempre muito presentes. Aos dez anos já inventava escritos e jornais em sebentas. Fui eu que trouxe a notícia da Revolução de Abril para casa, e descobri a política cedo, porque tinha dois irmãos na vida militar, um em Moçambique e outro no Alfeite. A minha mãe foi apoiar os militares no Cristo-Rei durante dois dias seguidos.
O primeiro amor…
O primeiro amor surgiu com a Mila, minha mulher e mãe dos meus filhos.
E o primeiro emprego…
No primeiro MASP (candidatura de Mário Soares, à presidência da República) no gabinete de Imprensa liderado pelo Cáceres Monteiro e pelo Miguel Almeida Fernandes. Não me recordo quanto ganhava.
Como é a sua casa? Como a define?
Espaçosa, confortável, com as condições mínimas para criar três filhos, que fazem parte do meu projecto de vida melhor sucedido. Foi adquirida com o esforço de uma vida profissional, é o ‘cantinho’ da reflexão e fica num sítio paradisíaco, na Quinta do Anjo, numa aldeia pela qual nos apaixonámos.
O que pensa do mundo?
Uma desilusão civilizacional, em que o primado da economia e do dinheiro se sobrepõem às leis da democracia e do estado de direito, o que implica, na actualidade, um sentido de luta ideológica pelos direitos sociais cada vez mais vincada. Não é aceitável que uma meia dúzia seja dominadora de das maiorias. E que estejamos a regressar a um empobrecimento quase vegetativo. A Europa, que era o farol do mundo democrático e social está a implodir.
Sente-se realizado humana e profissionalmente?
Construí a minha carreira com uma dedicação extrema e fiz de cada oportunidade uma frente para desenvolver as minhas capacidades. Julgo ter sido um bom ‘aprendiz’ e conquistei a maior parte dos meus objetivos e sonhos, em especial o jornalismo, que defendo de forma irrepreensível.
Como se resolve a crise?
Quando a justiça dos valores for reposta, o sentido de missão pública voltar ao seu estado puro e quando se fizer regressar as pessoas ao centro da política. Esta crise é falaciosa e os portugueses demonstraram que são capazes de dar a volta por cima. O pior é a falta de rumo. Não era necessário tanto sofrimento. Isso parece já ser inquestionável.
Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?
Sou católico, apostólico romano, mas acredito igualmente na ciência. Não está provada nenhuma das teorias, nem a criacionista, nem a naturalista. Acredito que há um poder divino pela crença e pela cultura da fé, mas a ciência tem conquistado adeptos para a teoria do Big-Bang. Prefiro continuar a acreditar que as duas teorias podem ser coabitáveis na forma de ver e de habitar este espaço terreno. A fé religiosa é similar à experimentação científica.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Tive duas ou três oportunidades para fazer coisas diferentes mas não me arrependo de ter seguido a minha impulsividade e convicções de forma coerente. Um caminho de dádivas e alguns obsctáculos. Essa é a força da vida e a sua provação. Acredito nisso.
Que faz no presente e que projectos para o futuro?
Dirijo o jornal ‘Semmais’ e aos 50 anos tenho ainda a cabeça a fervilhar de ideias. Continuar a consolidar e ampliar a marca, com novos projectos, é a fase imediata. Quero também retomar e concluir alguns escritos (sou um fanática das palavras), abordando temas que me perseguem desde que me conheço.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino
Londres
Um livro
Amor e sombras (Isabel Allende)
Uma música
“Hotel Califórnia” (Eagles)
Um ídolo
A mãe
Um prato
Ovos escalfados com ervilhas
Um conceito
Fazer valer a liberdade e a justiça