Com o apoio “HOTEL DO SADO”
“HOJE EXISTE UMA CRUELDADE MAIS SOFISTICADA”
O eng. Nuno David é um dos renomados pintores da cidade do Sado. Esteve ligado ao Ministério do Ambiente e ao Parque Natural da Arrábida, ao longo da sua vida profissional. Nasceu na fronteira do Catanga, em Angola e percorreu aquele pais durante a sua infância pelo fato do seu pai ser funcionário aduaneiro. Começou a trabalhar na Rádio Clube de Cabinda, onde abria as emissões e fazia os serões. A sua casa é âncora segura e, para si, a crise resolve-se com humanismo e solidariedade. Não é crente e diz mesmo que o Homem criou Deus, pela sua frágil condição humana. Como pintor tem vários projetos para o futuro próximo.
Como foi a sua infância?
Nasci no leste de Angola, na fronteira do Catanga, no Luau. Fui uma criança muito feliz porque o fato de ter vivido naquele ambiente africano emprestou-me uma postura descontraída, sem complexos rácicos e em partilha com todos. Na escola fui um aluno razoável. O fato de o meu pai ter sido funcionário aduaneiro permitiu-me conhecer Angola, de lés a lés, sobretudo a faixa litoral de Cabinda a Moçâmedes.
O primeiro amor…
Fui na escola primária em Moçâmedes. Tinha 9 anos e foi por uma rapariga que se chamava Regina, que era muito gira.
E o primeiro emprego…
Na Rádio Clube de Cabinda, com 17 anos. Era locutor. Na altura ganhava 500 escudos. Abria a emissora de manhã, depois ía para as aulas e regressava à noite para fazer os serões.
Como é a sua casa? Como a define?
O meu porto seguro. Uma âncora nas tempestades da vida.
O que pensa do mundo?
Sempre foi cruel, basta irmos à história. Tempos houve de uma forma clara e explícita. A conflitualidade humana nasceu da invenção da propriedade privada e, a partir daí, o sentido comunitário sofreu revezes. Hoje existe uma crueldade mais sofisticada.
Sente-se realizado humana e profissionalmente?
Ainda não, ainda trilho esse caminho. Sou um insatisfeito permanente embora reconheça que a minha vida foi e é pautada por valores e princípios humanamente corretos, mas nunca nos realizamos completamente.
Como se resolve a crise?
Com mais humanidade e mais solidariedade. De que crise afinal falamos? A dos valores, a financeira, a da solidariedade?...
Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?
Sou profundamente cético. Tudo começa no Big bang, embora a fraqueza humana se refugie, pela sua condição frágil, a um ser desconhecido. Para mim foi o Homem, que criou o seu Deus.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Sinceramente não. Reconheço que nem tudo foi bem feito mas gostei muito de ter passado pelas experiências e emoções que a vida me proporcionou.
Que faz no presente e que projectos para o futuro?
Estou reformado do Ministério do Ambiente, onde trabalhei 32 anos. Sou pintor, leio muito e procuro ser solidário num país que sofre. Tenho vários projetos de pintura que me irão dar muitotrabalho num futuro próximo.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino
Irlanda
Um livro
Memorial do Convento (José Saramago)
Uma música
Menina dos olhos tristes (José Afonso)
Um ídolo
Não tenho
Um prato
Moambada de peixe
Um conceito
Olha á tua volta sempre atentamente
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