Com o apoio “HOTEL DO SADO”
“JÁ ANDAMOS EM CRISE HÁ MUITO TEMPO”
João Reis Ribeiro é um professor bem conhecido nos movimentos cívico e cultural dos concelhos de Setúbal e Palmela. É oriundo da região de Viana do Castelo. Na infância ajudou os pais no cultivo das terras e no tratamento dos animais. Frequentou um colégio de Jesuítas. O seu primeiro emprego foi no Ministério da Agricultura e Pescas. À noite estudava e licenciou-se na faculdade de Letras. Em casa tem uma divisão onde guarda 7000 livros. Acha que o mundo é bonito mas o Homem nem sempre dá valor a essa riqueza. Não tem soluções para a crise e acha estranho que um país que começou com um rei a bater na mãe consiga ultrapassar alguma crise. Para si Deus e o Homem estão bem um para o outro
Como foi a sua infância?
Sou natural de Alvarães, região de Viana do Castelo.Foi uma infância feliz e com trabalho porque a minha família é originária do meio rural. Cultivava-se a pequena propriedade para sustento próprio e eu e os meus 4 irmãos ajudávamos bastante desde o cultivo ao tratamento dos animais. Na escola fui um bom aluno. Sempre gostei muito de aprender. Brincava na rua com os meus amigos que, com o passar dos tempos acabei por lhes perder o contato. Entretanto, após ter concluído a 4ª classe fui estudar para um colégio de Jesuítas, perto de Coimbra.
O primeiro amor…
Tal como todos os primeiros amores foi bonito mas durou pouco. Foi uma história de adolescência. Tinha 15 anos. Mas é uma boa memória.
E o primeiro emprego…
No Ministério da Agricultura e Pescas, em Lisboa, em 1978. Penso que ganhava 3.800 escudos. Tinha funções administrativas. Ao mesmo tempo fiz a minha licenciatura na Faculdade de Letras, à noite.
Como é a sua casa? Como a define?
Confortável, agradável e tem uma divisão só para livros. Devo ter 7000 volumes. A casa é o espaço da família.
O que pensa do mundo?
Acho que o mundo é bonito mas o Homem, não tem olhado sempre para essa beleza da melhor maneira, seja em termos do respeito pela natureza, seja naquilo que todos nós devemos fazer para que o mundo seja bom.
Sente-se realizado humana e profissionalmente?
Sinto-me realizado sobretudo porque me oriento por valores que considero fundamentais como o respeito pelo outro, o saber, o trabalho e a amizade. São pilares essenciais na minha realização.
Como se resolve a crise?
Não sei. Sei que já andamos em crise há muito tempo e não sei se um país que começou com um rei lutar contra a mãe se tem hipóteses de ultrapassar crises. Há ainda uma outra razão para uma certa crise eterna que nos martiriza: recorda-se que Camões começa a sua epopeia com a glória dos Portugueses? E sabe como a termina? É com a palavra "inveja". Essa tem sido uma das pedras que a história portuguesa tem trazido no sapato, sempre a fazer doer muito... Acho que nos deslumbramos facilmente com os outros e que nos preocupamos muito pouco com a capacidade que teríamos de sermos nós a deslumbrar. Penso que a crise só se ultrapassaria com trabalho e empenho mais do que com austeridades e outras coisas que mais parecem castigos do que incentivos.
Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?
Ambos correm a par. Não concebo o Homem, sem acreditar em algo superior a si próprio, provavelmente Deus. Acho que estão bem um para o outro.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Teria mais reservas com algumas pessoas com quem me cruzei. Assumo todo o meu percurso.
Que faz no presente e que projectos para o futuro?
Sou professor de português e espero continuar a sê-lo durante ainda muito tempo. Estou envolvido em projetos de cultura local e a minha intervenção cívica passa por aí.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino
Portugal
Um livro
Muitos, mas “Os Lusíadas” e os Maias”, são essenciais
Uma música
4 estações (Vivaldi)
Um ídolo
A família
Um prato
Sarrabulho
Um conceito
Quanto mais sei mais descubro que tenho muito para aprender
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