Entrevistas de JoaQuim Gouveia

25
Jul 14

 

“ESCREVO SOBRE O QUE REALMENTE AMO”

 

Paula Martins é poetisa setubalense. Nasceu no seio da família Piedade, a da famosa bolacha que desde há várias décadas está presente na Feira de Santiago, com o seu tradicional stand. Daí que o seu primeiro emprego tenha sido precisamente  a ajudar no fabrico daquele produto familiar. Pensa que o mundo está perdido de valores e que as pessoas se tornaram materialistas. Está consciente de que a crise só se ultrapassa com uma boa gestão económica, trabalho e honestidade. Compõe poemas e letras para fados que artistas como Dulce Pontes, por exemplo, já interpretaram. De momento faz parte do espetáculo musical “Por dez réis”. O seu pai é o sei ídolo e as Ilhas Gregas o destino de eleição.

 

Como foi a sua infância?

Nasci em Setúbal no bairro Troino. A  minha infância foi muito saudável e feliz, com

um grande espirito de família, onde o amor e a alegria estavam sempre presentes.

Era traquina, adorava brincar na rua com as minhas amigas e com a minha irmã, (nessa época não existiam os perigos que existem hoje). Foi uma infância plena de felicidade.

 

O primeiro amor...

Devia ter uns 12 ou 13 anos, paixões próprias da adolescência.

 

O primeiro emprego...

Tendo eu nascido no seio da família Piedade, o meu primeiro emprego (aliás como o de todos os membros da nossa família), foi ajudar no fabrico da Bolacha Piedade, actividade que era muito divertida e que nos deu muito sentido de responsabilidade e a visão do quanto é importante a nossa tradição.

 

Como é a sua casa? Como a define?

A minha casa é um local com o qual me identifico, tem um espaço harmonioso, onde se respira tranquilidade e onde melhor me inspiro para “voar nas asas da poesia”. Classifico-a como o meu porto de abrigo.

 

O que pensa do mundo?

Penso que o mundo está perdido de valores, as pessoas tornaram-se muito materialistas e com uma ambição desmedida. Pouco ou nada se faz com o coração, o que é muito triste e preocupante. Não embarco em utopias mas creio que se pode fazer muito mais, desde que os governantes não estejam tão preocupados com o seu próprio umbigo.

 

Sente-se realizada humana e profissionalmente?

Faço por isso. Acredito que todos nós nascemos com uma missão na vida e sinto que a minha é ajudar os que me rodeiam com todas as minhas forças. Profissionalmente, trabalho numa área onde estou em contato com o publico, deparo-me com muitos problemas económicos e não só e é aí que tento dar o melhor de mim, agindo com profissionalismo e sempre na expetativa de chegar ao fim do dia com o espirito de missão cumprida e aí sim, sinto-me realizada.

 

 

Como se resolve a crise?

Na verdade o país está a atravessar uma grave crise económica, mas também existe uma grande crise de políticos, pouca verdade e a transparência é inexistente. Não vejo ninguém preocupado em defender causas, vejo sim, políticos muito preocupados em defender o seu património para assegurarem o seu próprio futuro e os problemas do país vão ficando para trás. O povo já não acredita em ninguém. É urgente a consciencialização de que há muito mais para fazer do que correr atrás de um  pseudo progresso onde só a desonestidade impera. Colocando um fim aos “degraus humanos” que os “Xicos espertos” utilizam para chegar onde pretendem e que quando atingidos os objetivos, só deixam feridas em aberto. Com uma boa gestão económica, trabalho e honestidade é possível acabar com a crise que nos vitima a todos.

 

Deus criou o homem, ou foi o homem que criou Deus?

Como católica, acredito que foi Deus quem criou o Homem.

 

Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?

Talvez não mudasse nada. Aquilo que sou hoje é fruto da minha caminhada. As pedras que não se desviaram do meu caminho fizeram de mim um ser mais forte.

 

O que faz no presente e que projetos tem para o futuro?

Trabalho e escrevo poesia, que é aquilo que me dá prazer fazer. Escrevo sobre tudo o que realmente amo, e tudo aquilo que me incomoda. Embora já tenha participado em várias antologias poéticas, ainda não editei nenhum livro, talvez ainda não tenha chegado o momento certo, quem sabe um dia. Sou autora de poemas cedidos aos grupos musicais “Alcorrazes” e Massacotes”, letrista de algumas marchas populares para coletividades setubalenses, compus o hino para o Clube de Fuzileiros de Setúbal e escrevo letras para fados, alguns por editar e outros já cedidos, nomeadamente ao grande fadista Lúcio Bamond e à nossa grande e ilustre Dulce Pontes. Neste momento sinto-me entusiasmada com o Musical “Por dez reis”, projeto do qual faço parte, e que vai voltar a estar novamente em cena, com texto da autoria de Alfredo Portugal da Silveira, cenografia de Bruno Frazão, música do Maestro Carlos Pinto e letras de minha autoria e de Bruno Frazão. Uma peça bastante interessante, que retrata um acontecimento verídico que aconteceu em Setúbal em 1911, aquando da revolta dos conserveiros Mariana Torres e António Mendes, em luta por um mísero aumento de salário. Este é efectivamente um grande desafio, que me dá um enorme orgulho em participar. Uma peça que ninguém deve perder.

 

CAIXA DAS PALAVRAS

 

Um destino

Ilhas Gregas

 

Livro

A prisão do silêncio (Torey Hayden)

 

Uma música

Bohemian Rhapsody  (Queen)

 

Um ídolo

O meu pai

 

Um prato

Paella

 

Um conceito

“…É assim que me entrego/é assim que me dou/

foi assim que nasci/e será assim que me vou…”

 

publicado por Joaquim Gouveia às 11:14

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