“ESCREVO SOBRE O QUE REALMENTE AMO”
Paula Martins é poetisa setubalense. Nasceu no seio da família Piedade, a da famosa bolacha que desde há várias décadas está presente na Feira de Santiago, com o seu tradicional stand. Daí que o seu primeiro emprego tenha sido precisamente a ajudar no fabrico daquele produto familiar. Pensa que o mundo está perdido de valores e que as pessoas se tornaram materialistas. Está consciente de que a crise só se ultrapassa com uma boa gestão económica, trabalho e honestidade. Compõe poemas e letras para fados que artistas como Dulce Pontes, por exemplo, já interpretaram. De momento faz parte do espetáculo musical “Por dez réis”. O seu pai é o sei ídolo e as Ilhas Gregas o destino de eleição.
Como foi a sua infância?
Nasci em Setúbal no bairro Troino. A minha infância foi muito saudável e feliz, com
um grande espirito de família, onde o amor e a alegria estavam sempre presentes.
Era traquina, adorava brincar na rua com as minhas amigas e com a minha irmã, (nessa época não existiam os perigos que existem hoje). Foi uma infância plena de felicidade.
O primeiro amor...
Devia ter uns 12 ou 13 anos, paixões próprias da adolescência.
O primeiro emprego...
Tendo eu nascido no seio da família Piedade, o meu primeiro emprego (aliás como o de todos os membros da nossa família), foi ajudar no fabrico da Bolacha Piedade, actividade que era muito divertida e que nos deu muito sentido de responsabilidade e a visão do quanto é importante a nossa tradição.
Como é a sua casa? Como a define?
A minha casa é um local com o qual me identifico, tem um espaço harmonioso, onde se respira tranquilidade e onde melhor me inspiro para “voar nas asas da poesia”. Classifico-a como o meu porto de abrigo.
O que pensa do mundo?
Penso que o mundo está perdido de valores, as pessoas tornaram-se muito materialistas e com uma ambição desmedida. Pouco ou nada se faz com o coração, o que é muito triste e preocupante. Não embarco em utopias mas creio que se pode fazer muito mais, desde que os governantes não estejam tão preocupados com o seu próprio umbigo.
Sente-se realizada humana e profissionalmente?
Faço por isso. Acredito que todos nós nascemos com uma missão na vida e sinto que a minha é ajudar os que me rodeiam com todas as minhas forças. Profissionalmente, trabalho numa área onde estou em contato com o publico, deparo-me com muitos problemas económicos e não só e é aí que tento dar o melhor de mim, agindo com profissionalismo e sempre na expetativa de chegar ao fim do dia com o espirito de missão cumprida e aí sim, sinto-me realizada.
Como se resolve a crise?
Na verdade o país está a atravessar uma grave crise económica, mas também existe uma grande crise de políticos, pouca verdade e a transparência é inexistente. Não vejo ninguém preocupado em defender causas, vejo sim, políticos muito preocupados em defender o seu património para assegurarem o seu próprio futuro e os problemas do país vão ficando para trás. O povo já não acredita em ninguém. É urgente a consciencialização de que há muito mais para fazer do que correr atrás de um pseudo progresso onde só a desonestidade impera. Colocando um fim aos “degraus humanos” que os “Xicos espertos” utilizam para chegar onde pretendem e que quando atingidos os objetivos, só deixam feridas em aberto. Com uma boa gestão económica, trabalho e honestidade é possível acabar com a crise que nos vitima a todos.
Deus criou o homem, ou foi o homem que criou Deus?
Como católica, acredito que foi Deus quem criou o Homem.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Talvez não mudasse nada. Aquilo que sou hoje é fruto da minha caminhada. As pedras que não se desviaram do meu caminho fizeram de mim um ser mais forte.
O que faz no presente e que projetos tem para o futuro?
Trabalho e escrevo poesia, que é aquilo que me dá prazer fazer. Escrevo sobre tudo o que realmente amo, e tudo aquilo que me incomoda. Embora já tenha participado em várias antologias poéticas, ainda não editei nenhum livro, talvez ainda não tenha chegado o momento certo, quem sabe um dia. Sou autora de poemas cedidos aos grupos musicais “Alcorrazes” e Massacotes”, letrista de algumas marchas populares para coletividades setubalenses, compus o hino para o Clube de Fuzileiros de Setúbal e escrevo letras para fados, alguns por editar e outros já cedidos, nomeadamente ao grande fadista Lúcio Bamond e à nossa grande e ilustre Dulce Pontes. Neste momento sinto-me entusiasmada com o Musical “Por dez reis”, projeto do qual faço parte, e que vai voltar a estar novamente em cena, com texto da autoria de Alfredo Portugal da Silveira, cenografia de Bruno Frazão, música do Maestro Carlos Pinto e letras de minha autoria e de Bruno Frazão. Uma peça bastante interessante, que retrata um acontecimento verídico que aconteceu em Setúbal em 1911, aquando da revolta dos conserveiros Mariana Torres e António Mendes, em luta por um mísero aumento de salário. Este é efectivamente um grande desafio, que me dá um enorme orgulho em participar. Uma peça que ninguém deve perder.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino
Ilhas Gregas
Livro
A prisão do silêncio (Torey Hayden)
Uma música
Bohemian Rhapsody (Queen)
Um ídolo
O meu pai
Um prato
Paella
Um conceito
“…É assim que me entrego/é assim que me dou/
foi assim que nasci/e será assim que me vou…”