Entrevistas de JoaQuim Gouveia

15
Set 14

 

Com o apoio: HOTEL DO SADO

 

“FUI O MODELO DAS MEIAS DE CAMPINO DO PRÍNCIPE CARLOS”

 

Aureliano Carvalho é uma figura bem conhecida na vila de Palmela. Beirão por nascimento, teve uma passagem por Alverca do Ribatejo radicando-se, mais tarde e em definitivo na vila que elege como o melhor destino do mundo. A sua vida profissional começou aos 14 anos, como aprendiz nas OGMA, oportunidade que agarrou por toda a sua vida ligada ao mundo do trabalho. A sua mulher foi o primeiro e grande amor da sua vida. Pensa que a crise não tem solução porque é cíclica. Para si o mundo é como o corpo humano, tem tudo para ser aproveitado mas o Homem teima em destruí-lo. Sobre Deus diz que existe um para cada cultura. Hoje, reformado, passa os ensinamentos de uma intensa vida profissional aos mais jovens e dedica muito tempo às causas da cidadania.

 

Como foi a sua infância?

Foi uma infância riquissima porque nasci numa aldeia beirã chamada Pêga, entre a Guarda e o Sabugal. Saí de lá com apenas 7 anos porque o meu pai, que era manufator de calçado e comerciante, percebeu que aquela aldeia não tinha futuro para os filhos. Éramos 5 irmãos. Fomos, então, morar para Alverca do Ribatejo, onde estive até aos 28 anos. Entretanto, quando tinha 8 anos assisti à morte do meu pai com grande desgosto, como é natural. A partir daí as coisas tornaram-se um pouco mais complicadas. A minha mãe tornou-se no pilar da casa. Ela fazia meias para os campinos, era uma excelente artesã. Recordo-me que na visita da Rainha Isabel II, a Portugal, fui o modelo para as meias de campino que foram oferecidas ao príncipe Carlos, pelo município de Vila Franca de Xira.

 

O primeiro amor...

Foi a minha mulher que conheci há 52 anos, no casamento de um dos meus irmãos. Eu tinha 17 anos e ela 15. Foi amor à primeira vista e tão forte que tem durado uma vida inteira. Existem duas palavras que costumo transmitir a toda a gente: respeito e tolerância.

 

O primeiro emprego...

Aconteceu aos 14 anos. Entrei nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA), em Alverca, como aprendiz e sem vencimento, só tinha direito ao almoço. Foi um emprego que me deu um enorme futuro profissional.

 

Como é a sua casa? Como a define?

O melhor local do mundo para viver e onde procuro ter paz, amor e conforto.

 

O que pensa do mundo?

O mundo está muito bem concebido mas tenho pena que o Homem, pelas suas caraterísticas, o destrua dia após dia. O mundo é como o corpo humano, tem tudo. O mundo tem tudo de bom para aproveitarmos, mas o Homem teima em destruí-lo.

 

Sente-se realizada humana e profissionalmente?

A vida é composta por objetivos que vamos realizando fase após fase. Sendo assim, nunca estou realizado. Todos os dias estabeleço objetivos mais interessantes que não têm a ver com o materialismo. Sou um homem de valores.

 

 

Como se resolve a crise?

Primeiro temos que definir o que é a crise. Os orientais dizem que qualquer crise traz novas oportunidades. Nesta altura são as organizações financeiras quem está a lucrar com a crise. A crise não se resolve porque é cíclica. Tudo isto tem a ver com a formação cívica das pessoas. Temos que nos preocupar mais com o coletivo do que com o individual, ou seja, mais com o “Nós”, do que com o “Eu”.

 

Deus criou o homem, ou foi o homem que criou Deus?

Sou religioso de formação católica. O Homem precisa de ter alguma orientação espiritual. Há um deus diferente para cada cultura. Sendo assim, cada um vai procurar ter algo em que possa acreditar. Acho que o Homem criou o seu deus. Eu também tenho que ter a minha âncora.

 

Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?

Nada. Quando tomamos uma decisão deve ser suportada por alguns dados. Portanto, todas as minhas decisões foram ponderadas. No entanto, se nem tudo correu bem terá sido apenas por mero acaso. Logo, não mudaria nada porque tudo foi ponderado.

 

O que faz no presente e que projetos tem para o futuro?

Estou reformado. De resto vou transmitindo aos jovens a experiência adquirida durante 55 anos de intensa atividade profissional. Por outro lado sou voluntário na Academia dos saberes, em Palmela e na Quinta do Anjo. Sou, ainda presidente da Assembleia Geral da Sociedade Humanitária. Em representação do Conservatório Regional de Palmela, faço parte do Conselho Geral da Escola Secundária de Palmela. Pretendo ainda fazer tudo o que for de interesse para a cidadania.

 

CAIXA DAS PALAVRAS

 

Um destino

Palmela

 

Livro

O principezinho (Antoine de Saint-Exupéry)

 

Uma música

Pedra filosofal (Manuel Freire)

 

Um ídolo

A minha mãe

 

Um prato

Arroz de tomate

 

Um conceito

Não fazer aos outros aquilo que não quero que façam a mim

 

publicado por Joaquim Gouveia às 12:31

12
Set 14

 

“AS TRANSFORMAÇÕES DESTROEM O MUNDO”

 

Artur Jordão é um dos mais conhecidos músicos de Setúbal. Nasceu em Beja, onde conheceu uma infância muito difícil e está radicado na nossa cidade desde que para cá veio para cumprir o serviço militar. É pianista e foi nessa condição que começou no mundo laboral, no Hotel esperança, onde era músico privativo. O mundo causa-lhe tristeza porque o Homem, não sabe viver no conforto e na harmonia. Ter participado numa das edições do Festival RTP da Canção foi um momento alto na sua vida. Pensa que a crise só se resolverá quando houver emprego para toda a gente reativando a economia. Sobre Deus questiona a sua existência preferindo acreditar em Jesus Cristo, como um homem muito à frente no seu tempo. Os Beatlles são os seus ídolos.

 

 

Como foi a sua infância?

Nasci no hospital de Beja. Tive uma infância difícil. Éramos 9 irmãos. Só o meu pai é que trabalhava, era engraxador e vendia cautelas. Quando ele conseguia realizar algum dinheiro era o único sustento que tínhamos. Lembro-me de ir descalço para a escola mesmo em dias de chuva. Mas apesar de ser muito pobre fui um bom aluno. Consegui chegar ao antigo 7º ano da escola comercial. São recordações difíceis. Não me lembro de nada maravilhoso enquanto fui criança.

 

O primeiro amor...

Foi a minha mulher e tem sido por toda a vida. Namorámos, casámos e temos dois filhos.

 

O primeiro emprego...

No Hotel Esperança, quando vim para a tropa. Era pianista privativo do hotel. Acho que na altura ganhava 8 contos por mês.

 

Como é a sua casa? Como a define?

É o meu local de eleição. Tenho o meu piano. É lá que componho a maioria das minhas músicas. É agradável, confortável, com muito bom ambiente.

 

O que pensa do mundo?  

Da forma como o mundo se encontra entristece-me e o Homem é o principal culpado. Há cerca de 40 ou 50 anos atrás era tudo diferente. Todas as transformações que estão a ser levadas a cabo destroem o mundo, tal como o aquecimento global, a poluição, as guerras e as injustiças. As crises que estamos a viver são reflexo de tudo isto. Há sítios onde não existe qualquer tipo de desenvolvimento e onde impera a fome e a desigualdade.

 

Sente-se realizado humana e profissionalmente?

Não. Acho que ainda tenho algumas coisas para fazer. Gostava de saber mais do que aquilo que sei. Trabalho bastante, todos os dias, estudo e tento sempre evoluir, tudo na área da música. Consegui ir ao Festival RTP da Canção e isso deu-me um enorme prazer. Como homem tenho um bom casamento e dois filhos maravilhosos e uma neta e, portanto, penso que de certa forma estou realizado, embora procure mais e melhor da vida.

 

 

Como se resolve a crise?

Criando mais emprego e dando mais oportunidades às pessoas. Se toda a gente tivesse o seu emprego isto resolvia-se mais depressa. A situação atual não contribui para a resolução da crise. Temos que voltar a ativar a economia e os últimos governos não têm sabido gerir de forma correta essa situação e o desenvolvimento do país.

 

Deus criou o homem, ou foi o homem que criou Deus?

O Homem criou Deus. Já fui mais crente mas agora já não estou tão virado para aí. Pode ter havido um Jesus Cristo, um homem muito à frente no seu tempo. Mas Deus?... Quem é Deus?

 

Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?

Acho que era capaz de mudar algumas coisas para ter melhor vida. Não sei bem o que mudaria, mas que mudava alguma coisa isso é certo

 

O que faz no presente e que projetos tem para o futuro?

Trabalho na Igreja do castelo de Palmela, nas exposições e sou músico profissional, quase residente no Hotel Sana, em Sesimbra, como pianista. Dou aulas particulares a vários alunos. No futuro gostava de abrir uma escola de música com várias vertentes onde o teatro também estará presente. Tenho um estúdio de gravação e pretendo continuar a dinamizá-lo.

 

CAIXA DAS PALAVRAS

 

Um destino

Brasil

 

Livro

O segredo (Rhonda Byrne)

 

Uma música

Amor, my love (Artur Jordão)

 

Um ídolo

Beatlles

 

Um prato

Bacalhau com natas feito pela minha mulher

 

Um conceito

Viver cada dia o melhor que possa

 

publicado por Joaquim Gouveia às 19:18

11
Set 14

 

“O BIG BANG TAMBÉM FOI OBRA DE DEUS”

 

A Dra. Sália Tiago nasceu no Pinhal Novo, reside em Palmela mas é em Setúbal, que tem desenvolvido intensa atividade na área da saúde através da farmácia de que é proprietária na Praça de Bocage. Guarda da infância uma recordação muito feliz e do seu primeiro e único amor memórias que ainda hoje lhe adornam a felicidade. Começou a sua atividade profissional num laboratório de análises clínicas. Tem do mundo a ideia de que é uma bênção de Deus, criador do Homem e de toda a natureza. Gostaria de ter tido mais filhos mas, no entanto, a condição de avó confere-lhe um estatuto muito especial. O seu maior desejo é continuar a ser feliz. Não dispensa um bom petisco e gosta de ouvir “Danúbio Azul”, ao piano.

 

 

Como foi a sua infância?

Foi uma infância muito feliz. Nasci em Pinhal Novo e vivi numa quinta até aos 11 anos, onde haviam animais, árvores de frutos variados e amigos verdadeiros. Praticava todas as atividades do campo desde o semear ao colher. Passei muitas horas e dias ao lado do meu pai no laboratório de vinhos que ele tinha lá na quinta. Frequentei a escola primária do Pinhal Novo e com nove anos vim para Setúbal, onde concluí o ciclo preparatório.

 

O primeiro amor...

Aconteceu quando eu era ainda muito jovem. Tinha apenas 15 anos. Na altura era muito cedo para contar aos pais e aos amigos. Foi um amor secreto. Mas como já era sonâmbula, uma noite a minha irmã mais velha puxou por mim e conseguiu arrancar-me o segredo. Mas não houve mal nisso. Este primeiro amor marcou-me para o resto da minha vida porque ainda hoje está comigo, é o meu marido e pai das minhas filhas. É um amor que faz de mim uma mulher muito feliz.

 

O primeiro emprego...

Num laboratório de análises clínicas. Tinha 21 anos e fui trabalhar sem qualquer ordenado. Trabalhei durante 1 ano e ao fim dos três primeiros meses, como resultado do meu trabalho e empenho, estava a ganhar dinheiro para comprar o meu primeiro carro.

 

Como é a sua casa? Como a define?

É a casa mais bonita do mundo. É um espaço aberto onde as crianças brincam, os adultos confraternizam, os jovens divertem-se e os apaixonados pela música tocam piano. A separação dos espaços é feita por jardins interiores. Felizmente tenho a felicidade de ter a casa com que sempre sonhei. Lutei bastante para tornar esse sonho realidade.

 

O que pensa do mundo?

O mundo é uma maravilha. O planeta Terra é uma bênção. Eu nasci e o planeta esteve disponível para me abraçar. O mundo é como se fosse uma grande mãe para mim, que me deu luz, vida, água e oportunidades. O mundo mostrou-me muitas coisas bonitas. O mundo é fantástico, uma benção, a melhor coisa que nos pode acontecer.

 

Sente-se realizada humana e profissionalmente?

Sinto-me mas sou uma sonhadora. Tenho a certeza de que tenho ainda muito por fazer. Gostava de escrever um livro, acompanhar mais as minhas netas e construir um hotel na serra da Arrábida.

 

 

Como se resolve a crise?

Com trabalho, com perseverança, com o acreditar e, acima de tudo, agradecer a Deus. Ter trabalho para mim também é uma bênção.

 

Deus criou o homem, ou foi o homem que criou Deus?

Deus criou o Homem, porque a origem da vida teve a ver, quimicamente, com o grande som (Big Bang), que é o que nos ajuda a comunicar. No som está, também, incluído o silêncio. A vida surgiu pela explosão que obrigou os átomos e as moléculas a formarem-se. Mas foi Deus que originou o Big Bang e é ele que está em tudo na natureza. Deus é energia.

 

Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?

Teria tido mais filhos e uma família maior. Manteria tudo o resto, todo o percurso que fiz até aqui porque foi feito em consciência e não sinto arrependimentos.

 

O que faz no presente e que projetos tem para o futuro?

Sou farmacêutica e trabalho com um grupo de profissionais que são fantásticos e que são os melhores do mundo e de quem tenho muito orgulho. Além disso sou avó e essa é uma condição especial. Quero continuar a ser feliz com a minha família, os amigos e o trabalho que tenho desenvolvido nesta comunidade.

 

CAIXA DAS PALAVRAS

 

Um destino

Malásia

 

Livro

O Senhor do Anéis (J. R. R. Tolkien)

 

Uma música

Danúbio azul (Johann Strauss II)

 

Um ídolo

O meu marido

 

Um prato

Petiscos

 

Um conceito

Luz, amor e sabedoria

 

publicado por Joaquim Gouveia às 10:57

10
Set 14

 

Com o apoio HOTEL DO SADO

 

“SOU PASTOR DOS PROBLEMAS DOS OUTROS”

 

O Dr. Manuel Guerra Henriques é um advogado setubalense, homem do fado de Coimbra, fã incondicional de José Afonso. Nasceu para os lados de Figueira de Castelo Rodrigo, apascentou  e tratou de ovelhas durante a sua infância. Conheceu a partilha dos sentimentos ainda com tenra idade e experimentou como primeiro emprego contabilidade industrial que lhe deu, confessa, uma enorme ginástica mental. Acredita que é preciso dar alento aos outros e tem a sua secretária cheia de casos penosos de clientes com a vida em palpos-de- aranha devido a uma crise que tarda em ser resolvida. No seu entender o Homem criou Deus e, a partir daí,  jamais dele se dissociou porque necessita explicar a sua própria essência. Canta fado de Coimbra e os cantautores nacionais. Quando puder revisita Viena.

 

Como foi a sua infância?

A minha infância foi a guardar ovelhas em Mata de Lobos, no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo. Talvez isso tenha a ver com o meu gosto pelo “rebanho”. Gosto muito de andar misturado com as pessoas. Detesto a solidão. Fiz a escola nessa aldeia, onde entrei tardiamente porque no dia da minha chamada o responsável disse-nos que os meninos cujo nome se iniciava  por “M” e seguintes apenas teriam aulas no ano seguinte, porque a escola tinha esgotado a lotação. Saí com a sacola que a minha mãe me tinha feito, chorei e fui ter com os meus pais ao campo onde trabalhavam. Passei o ano a guardar e a tratar das ovelhas e a lavrar a terra. Tudo isto com apenas 8 anos. Apesar de tudo recuperei os estudos, tirei o meu curso e licenciei-me em direito.

 

O primeiro amor...

Foi com 10 anos, uma paixão forte que quase me obrigou a desejar que o meu pai morresse para ficar nivelado com a rapariga cujo pai tinha falecido nesse ano. Fiquei sempre com essa imagem de partilha de sentimentos que nunca se quebrou.

 

O primeiro emprego...

Numa empresa de produção agrícola de primores. Fazia contabilidade industrial. Ganhava quatro contos e meio por mês. Foi um emprego estimulante que me deu uma grande ginástica intelectual.

 

Como é a sua casa? Como a define?

É um lugar de eleição, do prazer, do bem-estar, do privado sobre o público. Um espaço familiar  e onde também recebo os amigos.

 

O que pensa do mundo?

O mundo está perigoso mas, ao mesmo tempo, está mais atual e perto de cada um de nós. Temos o privilégio de, quase em direto, assistir a tudo em toda a parte. Talvez um dia o mundo dê oportunidade à fase cíclica dos valores e à tranquilidade e reflexão.

 

Sente-se realizado humana e profissionalmente?

Sim, muito. Profissionalmente, porque ao escolher a minha profissão me permitiu realizar uma das componentes da minha personalidade que é ser um gregário e gostar de encontrar pessoas e realizar a própria solidariedade sem a qual não me conseguiria rever. Como ser humano, tenho uma família, amigos e valores que cultivo todos os dias e que são culturais, ideológicos, solidários e ainda a possibilidade de cantar, que é uma coisa extraordinária e que me dá um enorme prazer. Aqui, uma vez mais, poderia utilizar o termo “rebanho”.

 

 

 

Como se resolve a crise?

Pelo menos,  mantendo a esperança  de que é possível resolvê-la, incentivando isso mesmo no nosso circuito. Tenho em cima da minha secretária muitos casos de desespero a que tento dar um alento para tornar as coisas menos penosas. Os egoísmos dominantes, do capitalismo e da finança,  lançam bastantes dificuldades para perspetivar uma saída a curto prazo. Temos que dar tempo e acreditar nas organizações.

 

Deus criou o homem, ou foi o homem que criou Deus?

Acho que foi o Homem, quem criou Deus, mas depois de o ter criado tem que o cultivar e não pode ignorá-lo sob pena de não resolver a sua própria essência.

 

Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?

Não mudaria nada. Não temos capacidade para mandar ou pré-escolher tudo. Temos que estar disponíveis para o que a vida nos dá a cada momento.

 

O que faz no presente e que projetos tem para o futuro?

Sou advogado, pastor dos problemas dos outros e, paralelamente, sou cantor do Fado de Coimbra e de vários cantautores nacionais. Enquanto tiver voz e saúde hei-de continuar a cantar. Espero, dentro de meia dúzia de anos, reformar-me da advocacia.

 

CAIXA DAS PALAVRAS

 

Um destino

Viena

 

Livro

D. Quixote (Cervantes)

 

Uma música

Coro da primavera (José Afonso)

 

Um ídolo

Amo muito o José Afonso

 

Um prato

Bacalhau à Lagareiro

 

Um conceito

Adota para os outros a norma que gostarias de ter para ti

 

publicado por Joaquim Gouveia às 10:33

09
Set 14

 

Com o apoio HOTEL DO SADO

 

“O MUNDO ESTÁ UM BOCADO ESTRAGADO”

 

Célia David é atriz e diretora do Teatro de Animação de Setúbal. Nasceu no Alentejo, em Abela, no concelho de Santiago do Cacém, mas com apenas 6 anos radicou-se na Quinta do Anjo, onde cresceu, frequentou a escola primária e repartiu brincadeiras com os amigos. A sua casa é organizada, com 2 gatos e muitos livros. Pensa que o mundo está estragado por culpa do Homem, que não respeita o planeta. Sente-se de certa forma realizada porque diz gostar muito de si o que só lhe faz bem. A crise resolve-se quando puxarmos todos para o mesmo lado e houver uma mudança de mentalidades a favor da cultura dos povos. Adora a Arrábida, gosta de ouvir Lou Reed e o respeito é o seu principal conceito de vida.

 

 

Como foi a sua infância?

Foi ótima. Tenho pena não ter sido durante mais tempo. Brinquei muito, o mais que pude com amigos, com a minha irmã e sózinha. Nasci em Abela, Santiago do Cacém e depois fui morar para a Quinta do Anjo, quando tinha 6 anos. Ali fiz toda a escola primária. Fui boa aluna embora irrequieta e faladora, mas bem educada. Era uma escola feminina, antes do 25 de Abril. Lembro-me que a professora era a Dona Elisa.

 

O primeiro amor...

Não fui moça de muitos amores. O primeiro amor foi com um amigo meu de Palmela. Foi apenas platónico.

 

O primeiro emprego...

Foi no Teatro de Animação de Setúbal. Na altura ganhava 250 escudos por espetáculo.

 

Como é a sua casa? Como a define?

Organizada. Tem 2 gatos, tem muitos livros, é confortável e funcional. Gosto muito de estar em casa. Tem uma boa cozinha, o que é ótimo porque gosto muito de cozinhar.

 

O que pensa do mundo?

Acho que está um bocado estragado por culpa nossa. Devíamos ter mais respeito uns pelos outros e pelo próprio planeta. O problema são as relações de poder. Cada um de nós deveria contribuir para o bem estar de todos. É uma questão de mentalidade.

 

Sente-se realizada humana e profissionalmente?

Mais ou menos. Faço o que gosto, gosto muito de mim, sou muito minha amiga e isso traz-me realização Contudo, sou muito inquieta, por isso dificilmente posso estar completamente realizada, tanto a nível pessoal, como profissional.

 

 

Como se resolve a crise?

A crise financeira só se resolve quando trabalharmos todos no mesmo sentido de justiça e oportunidade. A crise de valores passa por uma mudança de mentalidades e pela educação e cultura dos povos.

 

Deus criou o homem, ou foi o homem que criou Deus?

Foi o Homem quem criou Deus. Sou católica e acredito que há um a entidade superior a que nós chamamos Deus, mas que não criou o Homem. Existe apenas para nos apoiarmos porque o Homem precisa disso, transmite-lhe segurança.

 

Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?

Talvez. Se a vida é uma aprendizagem, certamente corrigia algumas coisas.

 

O que faz no presente e que projetos tem para o futuro?

Sou diretora do Teatro de Animação de Setúbal e professora de expressão dramática. No futuro pretendo manter a minha atividade no teatro como docente. Acho que o meu trabalho é útil e contribuo para a educação e a cultura que são fundamentais.

 

 

 

CAIXA DAS PALAVRAS

 

Um destino

Arrábida

 

Livro

A um Deus desconhecido (John Steinbeck)

 

Uma música

Such a perfect day (Lou Reed)

 

Um ídolo

Não tenho

 

Um prato

Polvo à lagareiro

 

Um conceito

Respeito

 

publicado por Joaquim Gouveia às 00:22

08
Set 14

 

“SE DEUS EXISTISSE TERÍAMOS CONTAS A AJUSTAR”

 

João Manuel Faleiro Paixão é um poeta popular setubalense. Nasceu no bairro de Tróino e cedo teve que se dedicar ao mundo do trabalho para ajudar a família. Foi Boletineiro nos Correios. A sua casa é uma fortaleza que divide com a mulher da sua vida. Tem uma opinião pessimista do mundo que diz ter a riqueza muito mal dividida. Está reformado aos 58 anos apesar de se sentir apto para o trabalho mas a dissolução da empresa onde trabalhava não lhe deixou outra hipótese. Não acredita em Deus com quem teria contas a ajustar se fosse possível. Se pudesse voltar atrás teria valorizado mais os seus afetos. Faz versos e colabora com os grupos da música tradicional setubalense.

 

 

Como foi a sua infância?

Foi no bairro de Tróino, o meu país. Nasci no tempo das dificuldades mas havia peixe que era dividido e era o “pão” de toda a gente. Brinquei muito com muitos amigos. Fiz a escola primária na Fonte Nova. Fui um bom aluno. Mais tarde tive que abandonar os estudos para ir trabalhar e ajudar a família.

 

O primeiro amor...

Acho que foi a minha mulher. O resto foram apenas paixões tipo “flops”…

 

O primeiro emprego...

Nos correios a entregar telegramas. Era o chamado Boletineiro. Tive que comprar uma bicicleta com os meus primeiros três ordenados. Ganhava 600 escudos por mês.

 

Como é a sua casa? Como a define?

A minha fortaleza, o lugar onde me sinto bem. Está organizada como eu e a minha mulher a idealizámos. Tenho uma casita na beira-baixa, no Gaviãozinho, que estamos a recuperar. Essa será o nosso refúgio.

 

O que pensa do mundo?  

Sou muito pessimista em relação a este mundo e às pessoas que o fazem. O mundo está muito mal dividido em termos de riqueza. Morrem milhares de pessoas à fome enquanto se investe dinheiro em armas, por exemplo. Não há justiça nem paz.

 

Sente-se realizado humana e profissionalmente?

Humanamente acho que sim. Pena que este mundo não me diga nada porque poderia sentir-me, ainda, muito melhor. Profissionalmente abandonei a carreira cedo pela dissolução da fábrica onde trabalhava. Estou reformado apenas com 58 anos. No fundo ainda me sinto apto para trabalhar. Fui sempre um bom profissional.

 

 

Como se resolve a crise?

Quando a riqueza está nas mãos de 10 por cento da população, quando a banca e a bolsa não são taxados e os impostos continuarem a cair sobre quem trabalha é difícil resolver a crise.

 

Deus criou o homem, ou foi o homem que criou Deus?

Foi o Homem que teve necessidade de arranjar alguém que arcasse com os seus próprios fracassos, uma desculpa para o que está mal feito. Deus, para mim, não existe. Se existisse teria muitas contas a ajustar com Ele.

 

Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?

Teria valorizado mais os meus afetos.

 

O que faz no presente e que projetos tem para o futuro?

Estou reformado. Faço os meus versos, colaboro com grupos de música popular setubalense e no programa “Arestas de Vento”. No futuro pretendo continuar a dar de mim aos outros e à minha cidade.

 

CAIXA DAS PALAVRAS

 

Um destino

Gaviãozinho

 

Livro

Ensaio sobre a cegueira (José Saramago)

 

Uma música

Mercado do Livramento (João Paixão/Manuel Saraiva)

 

Um ídolo

O meu pai

 

Um prato

Posta à mirandesa

 

Um conceito

Acreditar na utopia

 

publicado por Joaquim Gouveia às 11:02

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