COM O APOIO DO “HOTEL DO SADO”
“O Homem é cada vez mais o lobo de si próprio”
O Dr. Chumbita Nunes é, no presente, presidente da delegação de Setúbal da Ordem dos Advogados. Natural de Soure, cedo se habituou às vivências na cidade de Setúbal, onde passava as férias grandes escolares em casa dos avós. Começou a trabalhar com 24 anos a dar aulas de educação fisíca. Tem do mundo a ideia de que está muito inseguro e que o Homem é cada vez mais o lobo se si próprio. Quando era jovem quis ser padre, ideia que não foi bem aceite pelos pais. Para si a crise resolve-se com valores e com seriedade. Já foi presidente do Vitória de Setúbal e gostava de terminar o trabalho então iniciado. O seu pai é o seu ídolo.
Como foi a sua infância?
Sou natural de Soure, no distrito de Coimbra. O meu pai também era natural de Soure e a minha mãe era setubalense. Sou filho único. Tive uma infância feliz. Os meus pais poderam dar-me uma boca educação, uma boa vida e o curso de direito. Desde muito novo todos os anos vinha a Setúbal, no período das férias grandes. Na minha infância tive muitos amigos com quem brincava bastante com as brincadeiras habituais da época. Fui um bom aluno na escola e disputava sempre a fita amarela que era a do melhor aluno. Nunca reprovei. Sempre fui uma criança muito ativa.
O primeiro amor…
A filha de um juíz de Soure. Tinha 13 anos. A miúda era muito gira e muito evoluída para a época. Foi a primeira vez que o meu coração bateu mais forte.
E o primeiro emprego…
A dar aulas de educação física, com 24 anos em Ílhavo. Penso que ganhava 3000 escudos.
Como é a sua casa? Como a define?
Tenho uma vivenda porque sempre gostei de casas com muito espaço. Nos apartamentos sinto-me limitado. Tem muita luz, um quintal e um jardim. Deito-me com o piar das corujas e acordo com o trinar dos pássaros. É uma casa muito tranquila, o meu refúgio em conjunto com o meu escritório.
O que pensa do mundo?
Está muito complicado. Que me lembre nunca vi tanta insegurança e intranquilidade no mundo. As pessoas não têm tempo para elas próprias. É uma sociedade que nos consome sem piedade. Cada vez o Homem é mais o lobo de si próprio. No entanto há muita beleza no mundo só que acaba por se esbater nestes conflitos e no medo que hoje em dia sentimos.
Sente-se realizado humana e profissionalmente?
Sim, totalmente realizado. Profissionalmente já fiz quase tudo o que havia a fazer. Humanamente também porque sempre fui uma pessoa solidária e de coração aberto. Tenho um grupo de amigos muito interessante. Sou um sortudo na vida, acho que nasci com um condão, nunca passei fome nem conheci privações.
Como se resolve a crise?
Com valores e seriedade. Acho que a solução para os grandes problemas deveria passar pela responsabilização cívil e criminal dos políticos que, entretanto, penso deveriam ganhar bem. A outra alternativa é que alguém que já tivesse ocupado qualquer cargo político não poder voltar a candidatar-se. Deveria ser tudo gente nova da sociedade cívil. Sem vícios, sem rotinas e limpos.
Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?
Foi o Homem quem criou Deus. Tenho uma tradição católica. Quando tinha 15 anos quis ir para padre, cheguei a saber a missa toda em latim. Gostava muito do pão com queijo que o padre nos dava a seguir à catequese. Os meus pais não aceitaram a ideia. Eu queria ir para o Seminário mas acabei por desistir da ideia. Hoje, Deus para mim é um ser metafísico e acho que o Homem o criou para justificar alguns dos seus pensamentos e a sua forma de estar na vida.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Talvez não me tivesse casado tão cedo na primeira vez, apesar de ter duas filhas fantásticas desse casamento.
Que faz no presente e que projectos para o futuro?
Sou advogado, presidente da delegação de Setúbal da Ordem dos Advogados e presidente do Conselho Vitoriano. Penso que ainda tenho algumas coisas para fazer na minha vida. Gostaria de acabar o projeto que comecei no Vitória de Setúbal. Nunca viro as costas aos clubes. Por outro lado quero arranjar uma empresa dedicada ao setor de desporto em toda a sua plenitude. Para além disso pretendo manter a minha atividade na advocacia.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino
Petersburgo
Um livro
Viagem ao mundo da droga (Charles Duchaussois)
Uma música
Tears in Heaven (Eric Clapton)
Um ídolo
O meu pai
Um prato
Bacalhau à Gomes de Sá
Um conceito
Servir o próximo