COM O APOIO DO “HOTEL DO SADO”
“DEVÍAMOS VIVER 400 ANOS”
Mário Narciso é um setubalense nascido num bairro tipico da cidasde e que viveu a sua infância rodeado de amigos e brincadeiras. Hoje é o melhor treinador do mundo na modalidade de futebol de praia, título que conquistou com mérito e esforço. A sua mulher foi o primeiro e único amor. Nos laboratórios da Portucel iniciou-se no mundo laboral. Para si o mundo é belo mas com contrastes evidentes de injustiça praticada pelo Homem a quem atribui, ainda, a necessidade de ter criado Deus, para os seus momentos de maior desespero. Gostava de viver 400 anos porque diz que a nossa passagem pela vida é demasiadamente curta. O seu ídolo é Jaime Graça e não dispensa uns bons salmonetes grelhados com molho de fígados.
Como foi a sua infância?
Nasci na segunda azinhaga do Mal Talhado, no bairro da Conceição. Com dois anos fui morar para o Bairro de Troino, na antiga Rua Direita e mais tarde para o bairro Santos Nicolau. A vida nessa altura era difícil mas não posso dizer que tive uma infância má. Fui filho único. Lembro-me de repartir o lanche com alguns amigos. Andei numa escola particular até à quarta classe e com 9 anos entrei para o ciclo preparatório. Era um bom aluno. Brincava muito, jogava Hóquei sem patins, à bola, andávamos nos quintas do bairro da Conceição a jogar ás escondidas e outras brincadeiras.
O primeiro amor…
Foi a minha mulher. Começámos a namorar com 14 anos. Acho que foi amor à primeira vista. Comecei a reparar nela porque era muito bonita.
E o primeiro emprego…
Na Portucel, como auxiliar de laboratório. Penso que ganhava à volta de 600 escudos.
Como é a sua casa? Como a define?
Tem tudo o que necessitamos. Também tenho trabalhado para isso. Sou muito de estar em casa e portanto, procuro que seja cómoda e tranquila.
O que pensa do mundo?
Há muita injustiça. As coisas estão mal divididas. Devia de existir uma maior homogeneidade. Há diferenças muito grandes entre uns que têm excesso e outros que nem sequer têm para comer. Mas também existem coisas boas. Há pessoas com bons sentimentos e solidárias. Para mim o mundo é belo. Acho que cada um de nós devia viver 400 anos porque a nossa passagem por cá é muito curta. As preocupações que temos com o futuro não se justificam porque o futuro é muito curto.
Sente-se realizado humana e profissionalmente?
Como homem sinto-me realizado. Acho que sou solidário e amigo e isso é fundamental para que me sinta de bem comigo e, neste momento, estou, na verdade, muito bem comigo próprio. Profissionalmente acho que ainda não cheguei aos limites das minhas capacidades. Em termos profissionais sou muito ambicioso e quero sempre mais. Daí ainda não me sentir completamente realizado.
Como se resolve a crise?
Não é o povo que conseguirá resolver o problema, mas terão que ser outras pessoas que se prepararam academicamente. Damos as nossas opiniões mas quem tem capacidade para tal é que será capaz de resolver a crise.
Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?
Foi o Homem quem criou Deus. Sou científico e na essência da humanidade há uma evolução do próprio Homem desde os primátas até aos nossos dias. O Homem criou Deus porque sentiu necessidade de se agarrar a algo em momentos de desespero.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Penso que ajudaria algumas pessoas que já precisaram de mim e que na altura pensei que não as conseguia ajudar e afinal talvez, com mais esforço da minha parte, o tivesse conseguido.
Que faz no presente e que projectos para o futuro?
Sou seleccionador nacional de futebol de praia e cobrador do Vitória de Setúbal. No futuro quero manter estas atividades enquanto me sentir bem.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino
Galapinhos
Um livro
Pappilon (Henri Charriére)
Uma música
We are the champion (Queen)
Um ídolo
Jaime Graça
Um prato
Salmonetes grelhados com molho de fígados
Um conceito
Ir em frente sem pisar ninguém