"IMPUS-ME PELA MINHA QUALIDADE"
O Dr. Julião Adrião é presidente do Grupo Desportivo “Os Amarelos” e médico respeitado na nossa cidade. Nasceu e cresceu no humilde bairro de Santos Nicolau e desde cedo despontou em si o desejo de se tornar médico. Em tempo de dificuldades aproveitou o facto de ser filho único e esforçou-se para conseguir os seus objetivos. Tanto em casa como no seu consultório tem uma decoração alusiva à cidade e à sua própria vida com quadros de pintores setubalenses e outros artefactos. Para si o mundo evoluiu de uma forma espetacular mas lamenta que os governantes não estejam á altura dos acontecimentos. Não acredita em Deus, gosta de visitar Cuba e não dispensa uma boa sardinhada.
Como foi a sua infância?
Sou natural de Setúbal, do bairro Santos Nicolau. Tive uma infância feliz num bairro de pescadores e com muitas crianças. Naquela altura os casais tinham muitos filhos. O meu pai era pescador e a minha mãe era doméstica. O bairro era muito pobre. Não foi fácil para o meu pai sustentar a família e ter um filho a estudar. Como eu era filho único tive a vantagem de concluir o meu curso. Comecei na escola 19, que era aqui no bairro. Não conhecia as letras e pensei em fugir da escola porque todos os dias levava reguadas e varadas do professor. Andava na fila dos burros. Consegui aprender sózinho e passar de classe. Depois fui para a escola da D. Cremilde e passei a ser o melhor aluno.
O primeiro amor…
Talvez por uma colega de curso no Porto, na faculdade. Não deu em nada porque eu era de Setúbal e ela de Trás-os-Montes.
E o primeiro emprego…
Nas férias grandes ia trabalhar como pedreiro ou servente. Trabalhei na estiva, ajudante de serralheiro, de jardineiro e outros trabalhos. Ia ao que aparecia. Queria ganhar dinheiro. O primeiro ordenado foi de 60 escudos por semana.
Como é a sua casa? Como a define?
É uma casa confortável, bem localizada e decorada à minha maneira e tem por motivo base Setúbal, com muitos quadros do Chora, Francisco Anjos e Vasco Leonardo e tem ainda outros motivos de decoração que me dizem algo da infância e do decurso da minha vida.
O que pensa do Mundo?
Tem evoluído espetacularmente a todos os níveis como a longevidade do ser humano e da comunicação. Há 40 anos as expetativas eram completamente diferentes. No entanto continuamos a ter lideres mundiais não formados para a sua função daí os declives no mundo.
Sente-se realizado humana e profissionalmente?
Completamente. Vim de um nível de vida muito baixo e com muitas dificuldades. Já no ciclo preparatório dizia que queria ser médico. Na altura era impensável. Lutei e consegui atingir o meu grande objetivo. Impus-me pela minha qualidade.
Como se resolve a crise?
Com trabalho, com objetivos bem definidos e sobretudo tem que haver mais eficácia da justiça que é o ponto mais negro do nosso país. A justiça não funciona e dá um sentimento de impunidade a quem tem uma capacidade económica muito grande.
Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?
Todas as religiões são criadas pelo Homem, que precisa de algo a que consiga agarrar-se para superar as suas debilidades. As religiões congregam as nossas incertezas perante a vida e a natureza. Foi o Homem quem criou Deus.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Teria evitado a queda que me provocou uma necrose da cabeça do úmero do ombro direito. De resto não me arrependo de nada.
Que faz no presente e que projetos para o futuro?
Sou presidente do Grupo Desportivo “Os Amarelos” e médico de várias instituições na cidade. Tenho um longo percurso no movimento associativo e quero manter-me em atividade. “Os Amarelos” são uma herança do meu pai que reativou o clube. Espero morrer médico.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino:
Cuba
Um Livro:
Os Maias (Eça de Queirós)
Uma Música:
My Way – Frank Sinatra
Um Ídolo:
Cristiano Ronaldo
Um prato:
Sardinhas assadas
Um conceito:
Vive de acordo com as tuas possibilidades e fazendo o que não queres que te façam a ti