Com o apoio do HOTEL DO SADO
“O MUNDO É UM BARRIL DE PÓLVORA”
António Velez é presidente do Conselho Administrativo da Cooperativa de Habitação Económica Che-Setúbal. Nasceu em Luanda, onde viveu até aos 20 anos de idade. Teve uma infância feliz admitindo que nunca encontrou situações de racismo vivendo mesmo sem estigmas. Pensa que o mundo é um barril de pólvora que pode ser detonado a qualquer momento. Diz que os animais respeitam-se melhor entre si que os seres humanos. Está aposentado com a sensação do dever cumprido depois de 40 anos de trabalho na função pública. O seu destino preferido é a Andaluzia, gosta de ouvir Maurice Revel e é fã de José João Zoio.
Como foi a sua infância?
Nasci em Luanda, onde vivi até aos 20 anos. Tive uma infância feliz e descontraída. Nunca encontrei situações de racismo mesmo naquela altura. Vivi sempre sem estigmas. Tinha uns amigos que moravam por baixo da minha casa com quem brincava bastante. Tínhamos um gindungueiro que é um arbusto que faz o gindungo, uma espécie de piri-piri. Mastigávamos aquilo para ver quem aguentava mais tempo. Na escola fui um aluno médio. Lembro-me que a escola era frequentada por brancos e negros.
O primeiro amor…
Foi com uma vizinha em Luanda. Tinha 18 anos. Ainda namorámos algum tempo. Acabou porque a família dela regressou mais cedo a Portugal, depois da descolonização.
E o primeiro emprego…
Na direção dos serviços de comércio em Luanda. Era técnico de boletins de importação, um trabalho muito bem pago.
Como é a sua casa? Como a define?
É uma casa simples de habitação social numa cooperativa que é a Che-Setúbal. É o meu porto de abrigo confortável e tranquilo.
O que pensa do Mundo?
Acho que o mundo é um barril de pólvora que de um momento para o outro pode ser detonado. É um mundo cão com muitas desigualdades e guerras. Há muita gente a passar fome e a viver nas ruas. Mas gastam-se fortunas em armamento. É um paradoxo. Os animais respeitam-se melhor entre si do que as pessoas.
Sente-se realizado humana e profissionalmente?
Profissionalmente estou aposentado mas sentindo a missão cumprida. Foram 40 anos de função pública. Pessoalmente procuro ser um melhor ser humano a cada dia que passa. Preocupo-me bastante com os outros.
Como se resolve a crise?
Temos que acabar com a corrupção e os compadrios. A crise é uma caixa de pandora. Quando se começa a mexer vamos por aí fora sem fim.
Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?
Sou católico não praticante. A minha visão da igreja católica não é a melhor. Acredito que há uma força superior que domina isto tudo e tem poder sobre as pessoas. Não sei se é Deus.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Não teria permitido a entrada de pessoas erradas na minha vida. Ainda acredito muito nas pessoas porque não tenho maldade.
Que faz no presente e que projetos para o futuro?
Sou presidente do Concelho Administrativo da Cooperativa de Habitação Económica Che-Setúbal. Dou apoio à minha filha e netos. O futuro a Deus pertence mas gostaria de concretizar alguns projetos com que tenho sonhado.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino:
Andaluzía
Um Livro:
A inglesa e o marialva (Clara Macedo Cabral)
Uma Música:
Bolero (Ravel)
Um Ídolo:
José João Zoio
Um prato:
Torricado de bacalhau com mangusto
Um conceito:
Não faças aos outros o que não queres que não te façam a ti