CELESTINA NEVES
“AS FREGUESIAS SÃO AS CATEDRAIS DA DEMOCRACIA”
Celestina Neves é autarca em Azeitão e gosta do cargo que ocupa pela proximidade que isso implica junto dos seus concidadãos. Católica frequentou um colégio de freiras na Guarda, cidade onde conheceu o seu primeiro amor às escondidas das religiosas. Em criança teve toda a liberdade para brincar mas aos dezoito anos já leccionava em Oleiros, no ensino básico. O mundo traz-lhe preocupações acrescidas pelo facto de ser avó. Pede desculpa se foi injusta mas acredita que nunca o terá sido de forma consciente ou deliberada. Nèlson Mandela é o seu ídolo maior.
Como foi a sua infância?
- Foi muito feliz. Sou natural de Ourondo (Covilhã), onde morei até aos dez anos. Na altura já existia parque infantil, jardins e ringue de patinagem onde eu brincava muito. Tinha toda a liberdade do mundo para brincar. Ourondo é uma terra com muita água, onde passam dois rios, um é o Zêzere.
O primeiro amor...
- Estava num colégio de freiras, na Guarda e deveria ter quinze anos. Foi um amor platónico por um rapaz que também gostava de mim. As freiras nunca descobriram.
E o primeiro emprego…
- Professora do ensino básico, em Oleiros, com dezoito anos. Tinha quatro turmas e trinta e oito alunos. Ganhava cerca de dois mil e cem escudos, na antiga moeda.
- Como é a sua casa, como a define?
-É um lar muito familiar, tranquilo, com muito amor, solidariedade e respeito pelas diferenças de cada um.
O que pensa do mundo?
- Talvez porque já sou avó preocupa-me bastante. Os nossos filhos tiveram uma vida bastante facilitada. Os pais foram uma autêntica almofada. Eles foram levados ao colo. Agora a pergunta coloca-se ao nível dos nossos netos. Os nossos filhos, já adultos e pais não conseguem dar-lhes a mesma vida, ser a mesma almofada. Estou bastante preocupada com o futuro deles.
Como se ultrapassa a crise?
- Com trabalho, sem dúvida. Mas também com maior justiça social e mais solidariedade. As riquezas do mundo não podem continuar nas mãos de meia dúzia. Infelizmente o poder ainda está concentrado numa pequena minoria.
Sente-se realizada humana e profissionalmente?
- Muito. Atingi os meus objectivos. Fui lutadora naquilo em que acreditava, nas boas causas. Profissionalmente tive uma vida cheia. A vida de autarca de junta de freguesia preenche-me pela proximidade que se tem com os cidadãos e os seus problemas e anseios. Dá-nos, muitas vezes, a possibilidade de resolver questões no imediato. As freguesias são a catedral da democracia.
Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?
- Sou crente, portanto, acho que Deus criou o Homem. A minha crença surge pela educação que recebi na infância e, vida fora, descobri que a fé é um suporte na nossa vida. Por outro lado penso que o mundo não poderá ser obra do acaso.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
- Nada. Não estou arrependida de coisa alguma. Posso ter feito mal a alguém mas nunca o fiz de forma consciente ou deliberada. Se fui injusta sou a primeira a pedir desculpas.
Que faz no presente e que projectos para o futuro?
- Sou presidente da Junta de Freguesia de S. Lourenço, em Vila Nogueira de Azeitão. No futuro vou continuar o meu trabalho por aqui e ser, cada vez mais, melhor pessoa, melhor mãe, avó e amiga.
CAIXA ALTA
Um destino
- África
Um livro
- A mãe
Uma música
- Qualquer uma dos Beatles
Um ídolo
-Nélson Mandela
Um prato
- Cozido à portuguesa
Um conceito
- Solidariedade
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