Com o apoio “HOTEL DO SADO”
“SE TUDO FOSSE BOM A VIDA PERDIA O SENTIDO”
Bruno Frazão desenvolve várias atividades ora relacionadas com o movimento associativo da cidade, ora com o teatro e as marchas populares. Foi uma criança tranquila com uma infância calma, sem sobressaltos. Começou a trabalhar no MacDonalds, com 17 anos e estoirou o primeiro ordenado num telemóvel. Pensa que o mundo está a tornar-se perigoso e que as pessoas acusam egoísmo suficiente para se ignorarem. Tem ainda muitos sonhos por concretizar e. por isso, quer manter-se, no futuro, bastante ativo e inovador. Não acredita em Deus, nem há religião que o convença. O seu deus é o pai que já partiu e a quem pede ajuda espiritual. Gosta de ouvir Amália e o seu lema é o de viver um dia de cada vez como se fosse o último
Como foi a sua infância?
Sou filho de Setúbal, nasci no Hospital de S. Bernardo, morei no Montalvão e, depois, os meus pais mudaram-se para o Casal das Figueiras, onde hoje ainda moro. Tive uma infância tranquila sem muitos problemas. Fui sempre um rapaz calmo que nunca deu preocupações. No entanto a teimosia nasceu comigo, é uma coisa minha desde criança... Andei na escola primária do Casal das Figueiras, onde fui sempre um bom aluno. Enquanto as outras crianças se entretinham a brincar com carrinhos e às brincadeiras normais, já eu mexia em papéis para escrever e lia livros. Aliás lia-os a cantar, não sei porquê.
O primeiro amor…
Devia ter 14 anos. Foi com uma rapariga do meu bairro. Não chegámos a namorar. De certa forma foi a confusão entre a amizade e o amor, mas foi a pessoa que, pela primeira vez, fez o meu coração acelerar mais que o normal.
E o primeiro emprego…
No MacDonalds, com 17 anos. Ganhava 24 contos. Com o primeiro ordenado comprei logo um telemóvel e fiquei sem dinheiro.
Como é a sua casa? Como a define?
Moro com a minha mão, com o meu padrasto e com o meu irmão. É um espaço de refúgio. É uma casa acolhedora onde me sinto bastante bem. É onde guardo todos os meus segredos, medos, desejos e sonhos. Por outro lado é, também, onde coloco em ação o meu lado criativo na escrita e nos desenhos de figurinos e arcos para as marchas populares.
O que pensa do mundo?
Está a tornar-se perigoso. Estamos a entrar numa era de grande conflito não só ao nível das guerras mas, principalmente, ao nível da forma como as pessoas lidam umas com as outras. As pessoas estão a tornar-se egoístas. A questão do poder está a afetar a cabeça do ser humano que já não tem compreensão por si próprio nem pelo outro.
Sente-se realizado humana e profissionalmente?
Não porque ainda tenho muitos sonhos por concretizar. Acho que vou morrer sem estar totalmente realizado. Sei que sou capaz de fazer mais mas nem sempre tenho forma de o fazer.
Como se resolve a crise?
Com vontade política. O exemplo tem que começar nos políticos, no valor que auferem que é exorbitante em comparação com a generalidade da população. Temos que criar políticas no nosso país para a promoção do trabalho e para a produção própria para aumentar as exportações e trazer mais riqueza. Temos ótimas condições naturais.
Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?
Não acredito em nenhuma religião. Não há Igreja que me convença. Não acredito em Deus. Aliás, eu tenho o meu deus que é alguém que já partiu e em quem sempre penso quando preciso de ajuda espiritual que é o meu pai. Para mim foi o Homem quem criou Deus.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Na generalidade acho que não mudaria nada. Se na vida tudo fosse bom ela perderia o sentido. São as experiências que nos fazem crescer.
Que faz no presente e que projectos para o futuro?
Sou técnico comunitário do projeto “Agora Sim”. Trabalho com crianças e jovens em risco. Sou ainda presidente da ACOES e da Academia de Teatro de Setúbal. No futuro, a nível profissional pretendo manter-me no caminho da intervenção social. No teatro quero continuar bastante ativo e tentar inovar o mais possível.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino
Sidney
Um livro
Acabem já com esta crise (Paul Krugman)
Uma música
O grito (Amália)
Um ídolo
Não tenho
Um prato
Carne de porco à alentejana
Um conceito
Viver um dia de cada vez como se fosse o último