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"A MINHA FELICIDADE DEPENDE DA FELICIDADE DOS OUTROS”
O Dr. Eugénio da Fonseca é presidente da Cáritas Diocesana de Setúbal e da Cáritas Portuguesa. Nasceu em pleno bairro Santos Nicolau e esteve ligado ao Grupo Desportivo “Os Amarelos”, onde foi massagista porque a bronquite asmática o impedia de jogar futebol. Para si o mundo não tem sido respeitado tal como a natureza o merecia, porque o Homem, não deixa de ser egoísta apesar de todos os avanços científicos. Tem dúvidas de que a crise tenha solução porque os pseudo senhores do mundo, como lhes chama, não investem numa nova civilização. Em jovem pensou vir a ser padre mas optou por casar e constituir família. O seu ídolo é D. Manuel Martins e em termos gastronómicos não dispensa o bom cozido à portuguesa.
Como foi a sua infância?
Nasci no bairro Santos Nicolau, há 57 anos, no seio de uma família ligada ao mar. O meu pai era pescador e a minha mãe conserveira. Nasci num bairro popular. As brincadeiras eram feitas na rua que era um espaço livre e assinalávamos as festividades relacionadas com o povo. Haviam duas coletividades que dividiam o bairro em dois lados, uma era o grupo “Santo” e a outra “Os Amarelos”, a que estive sempre mais ligado. Aos 6 anos tive bronquite asmática e como não podia jogar futebol deram-me a tarefa de massagista e um fato de treino verde e amarelo para poder estar ligados às atividades do clube.
O primeiro amor…
Foi o primeiro e único amor. Conheci a minha mulher nos grupos da paróquia da igreja de S. Sebastião. Ela morava nas Fontaínhas. Tinha 10 anos. Quando nos zangávamos arranjava sempre maneira de lhe provocar ciúmes. Ainda pensei que poderia vir a ser padre e levei 10 anos a decidir mas acabei por casar. Ela esperou por mim todo esse tempo.
E o primeiro emprego…
Aos 18 anos como professor, em pleno PREC, na Baixa da Banheira, na disciplina de Moral e Religião. Não me recordo de quanto ganhava na altura.
Como é a sua casa? Como a define?
É uma casa com 5 assoalhadas e 2 varandas que me põem em contato com o jardim do Bonfim. É uma casa confortável. Como sou muito sedentário acaba por ser o meu refúgio. Gosto muito de lá estar com os amigos.
O que pensa do mundo?
É um paradoxo. Por um lado acho que é um espaço de realização do ser humano com todas as condições na diversidade das possibilidades que tem para cada criatura, pela prodigalidade da própria natureza que se gera e se regenera a nosso favor com criaturas fabulosas. Mas ao mesmo tempo é um mundo que não tem sido respeitado como a natureza merecia. O Homem não deixa de ser egoísta apesar de todas as tecnologias e o avanço da longevidade pelas ciências médicas. Revelamos desprezo pelos bens que temos ao nosso alcance com consequências ecológicas. Nem sempre tratamos bem quem tem a possibilidade de viver mais anos. O Homem encontra no lucro a sua forma de viver em detrimento da felicidade o que provoca guerras que nos fazem temer porque podem arrastar-nos para uma tragédia mundial.
Sente-se realizado humana e profissionalmente?
Não porque para o sentir teria que ter conseguido atingir na plenitude os meus anseios e objectivos. Sinto-me sintonizado com as minhas opções de vida mas nunca estarei realizado se os outros não o estiverem. A minha felicidade depende da felicidade dos outros.
Como se resolve a crise?
Tenho dúvidas de que a crise tenha solução porque, sem querer ser pessimista, não vejo os pseudo senhores do mundo estarem a dar sinais de investir na criação de uma nova civilização que valorize mais as pessoas e o respeito pela sua dignidade e por tudo o que está à sua volta. O que está a acontecer no mundo é escandaloso.
Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?
Não tenho qualquer dúvida de que Deus criou o Homem. A minha conceção de Deus é que ele é a essência perfeita daquilo que nós consideramos o amor. Todos fomos criados pelo amor. Nós não nascemos egoístas, nascemos direcionados para o bem. O mal é a ausência do bem. O mal não existe.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Não mudaria nada. Tenho muito orgulho nas minhas raízes. Os momentos mais angustiantes ajudaram-me a crescer. Talvez não tivesse dado tanta importância aos que menos me querem bem.
Que faz no presente e que projectos para o futuro?
Sou presidente da Cáritas Diocesana, estou no conselho geral do Instituto Politécnico e Escola Profissional de Setúbal e na comissão executiva do PEDEPS. A nível nacional sou presidente da Cáritas Portuguesa, presido à Confederação Portuguesa do Voluntariado e integro o Conselho Económico e Social do país. No futuro irei manter estas tarefas enquanto as pessoas assim o entenderem e pretendo que nunca me falte o trabalho.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino
Brasil
Um livro
D. Manuel Martins, um homem plural
Uma música
Vemos, ouvimos e lemos (Francisco Fanhais)
Um ídolo
D. Manuel Martins
Um prato
Cozido à portuguesa
Um conceito
Não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti