“HOJE TEMOS UMA CONSCIÊNCIA MAIS HUMANITÁRIA”
O Dr. Horácio Pena é um investigador cultural do município de Setúbal. Teve uma infância tranquila com a aprendizagem do gosto pela leitura e pelo saber incutido pelas suas professoras do ensino primário. Frequentou o seminário e viveu num convento mas a sua falta de convicção católica impediu-o de se tornar padre. Pensa que é o Homem quem cria os seus próprios deuses. Como é otimista acredita que o mundo está em progresso e que hoje pensamos de forma mais adulta que os nossos antepassados. Gosta da obra de Eugénio de Andrade e elege “Requiem”, de Mozart, como a sua música de eleição.
Como foi a sua infância?
Nasci em Sintra, onde passei a minha infância até aos 10 anos. Recordo-me da frequência do ensino primário, da minha escola e das professoras que me marcaram muito positivamente. Elas despertaram em mim muito desejo e interesse pela cultura, a busca do saber. Na altura já me juntava aos grupos que gostavam de leitura. Estavam em voga os livros dos “Sete” e dos “Cinco” da Enid Blyton. Fui um bom aluno na área das letras. Lembro-me das festas anuais pelo primeiro de maio, que é a grande festa da aldeia de Granja do Marquês, onde vivia. Recordo-me que havia o cinema ambulante com projeções dos filmes nas paredes caiadas.
O primeiro amor...
Foi a leitura.
O primeiro emprego...
Na Câmara de Setúbal. Comecei por ganhar sete contos e quinhentos.
Como é a sua casa? Como a define?
O meu reduto. O local mais importante depois de um dia de trabalho. É uma casa acolhedora, com o conforto necessário.
O que pensa do mundo?
Como sou otimista penso que o mundo está em progresso. Hoje pensamos de uma maneira mais adulta do que os nossos antepassados, temos maior consciência que aqueles que nos antecederam. Temos uma consciência mais humanitária.
Sente-se realizado humana e profissionalmente?
A realização é como o mundo em que vivemos, é um acontecer diário. Nunca estamos realizados nem felizes mas temos momentos de realização e felicidade. Nunca nada está completo.
Como se resolve a crise?
Continuando uma revolução de mentalidades o que nunca aconteceu mesmo depois do 25 de Abril de 74, como lembrou o poeta Eugénio de Andrade.
Deus criou o homem, ou foi o homem que criou Deus?
O Homem cria deuses. São projeções dos nossos desejos, anseios e necessidades. Temos necessidade de deuses para a nossa completude e ausência de afetos e orientações perante a dúvida existencial.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Regressaria às minhas ambiências religiosas (voltaria ao seminário e ao convento).
O que faz no presente e que projetos tem para o futuro?
Sou técnico superior do departamento de cultura do município de Setúbal. Faço investigação histórica. No futuro quero voltar a ler muito.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino
Norte de Portugal
Livro
A obra de Eugénio de Andrade
Uma música
Requiem (Mozart)
Um ídolo
Não tenho
Um prato
Bacalhau cozido com batatas
Um conceito
Respeito