“DEUS E O HOMEM CONFUNDEM-SE”
O Dr. Miranda Lemos sente-se feliz com o seu percurso de vida. Apesar de reformado contínua a exercer a sua especialidade de anestesista no Centro Hospitalar de Setúbal. A entrada na escola primária assustou-o e o nascimento do irmão trouxe-lhe a primeira grande alegria. Começou a trabalhar aos 18 anos como revisor de provas tipográficas. Tem do mundo a ideia de que é imperativo a absoluta necessidade da participação dos cidadãos por uma sociedade justa e solidária. Diz que tempo virá em que o Homem perceberá que é Deus e que Deus é o Homem. A verdade e a solidariedade são os valores que mais preza.
Como foi a sua infância?
Foi uma infância normalíssima. Nasci em Lisboa, na Maternidade Alfredo da Costa, como não podia deixar de ser a um bom alfacinha. Tive a felicidade de ter os meus pais muito novos o que foi bom porque me acompanharam durante um período muito grande da minha vida quer nos jogos de infância, como na adolescência e já casado e com filhos. Depois, também eu tive a possibilidade de lhes dar conselhos, como homem maduro e ainda hoje vou a casa da minha mãe, uma “jovem com 88 anos. O meu primeiro grande temor foi a entrada na escola e a primeira alegria o nascimento do meu irmão.
O primeiro amor...
Foi platónico, intenso. Eu tinha 15 anos. Ela era uma jovem filha do merceeiro da aldeia onde eu ia passar as férias. Fui correspondido.
O primeiro emprego...
Revisor de provas tipográficas em Lisboa. Tinha 18 anos e era estudante. Ganhava 500 escudos por mês.
Como é a sua casa? Como a define?
Minha. Aberta aos amigos, confortável, pequena, virada para dentro, no campo.
O que pensa do mundo?
Tinha um professor, Gomes da Costa, de química fisiológica que tinha uma frase que resume o que eu penso do mundo atualmente. “É mais fácil endireitarmos o mundo do que impedir que ele nos entorte a nós”. Apesar do cinismo desta frase tenho por imperativo a absoluta necessidade da participação empenhada de todos os cidadãos por uma sociedade justa e solidária.
Sente-se realizado humana e profissionalmente?
Seria pretensioso da minha parte afirmar que me sinto realizado nessas duas vertentes. No entanto, posso afirmar que me sinto feliz com o meu percurso de vida e com quem me tem acompanhado e com quem eu vi crescer e meu deu o privilégio de merecer o título de pai.
Como se resolve a crise?
Qual crise?... A dos valores? A financeira? A económica? Acho que qualquer crise seria resolvida se conseguíssemos resolver a primeira, a dos valores.
Deus criou o homem, ou foi o homem que criou Deus?
Sem a existência do Homem, não existiria o conceito de Deus. Para mim tenho que Deus e o Homem, se confundem. Dê tempo ao tempo porque tempo virá em que o Homem perceberá que é Deus e que Deus é o Homem. A fé move montanhas e pena tenho eu de não ter fé.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Nunca se pode voltar atrás. No entanto, se pudesse faria exatamente o que fiz até aqui.
O que faz no presente e que projetos tem para o futuro?
Profissionalmente e apesar de estar reformado continuo a exercer a minha especialidade de anestesista no Centro Hospitalar de Setúbal. Para além disso estou a preparar a edição de um livro com textos de reflexão sobre a vida. Exerço com alegria as minhas competências de pai e avô. O futuro é feito dos desafios do dia a dia que procuro ultrapassar.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino
Casa dos meus pais na beira alta
Livro
A cabana do pai Tomás (Harriet Beecher Stowe)
Uma música
Natalie (Charles Aznavour)
Um ídolo
Não tenho
Um prato
Rojões com morcela e grelos
Um conceito
Verdade e solidariedade