Com o apoio: Hotel do Sado
“APESAR DE TUDO ACREDITO NAS PESSOAS”
A Dra. Maria Helena Mattos é a presidente da Liga dos Amigos do Forúm Municipal Luisa Tódi, entidade que está à beira de concluir o seu trabalho. Cresceu no bairro da Sécil e por ali brincou, frequentou a escola primária e calcorreou montes e vales da serra da Arrábida. O seu primeiro emprego foi a ensinar noções básicas de português e história e cultura a uma rapariga belga filha dos Condes D Armand, proprietários do Palácio da Comenda. Sobre o mundo acredita que carece da urgente ação transformadora do Homem. É cristã e católica e aceita Deus, também como um ideal de amor. Para si a crise poderá não ter cura mas as melhoras são possíveis. Adora o peixe grelhado de Setúbal.
Como foi a sua infância?
Talvez um pouco solitária por ter sido filha única. Fui criada com muito carinho dos meus Pais, que ao mesmo tempo me educaram com uma grande exigência de responsabilidade. Era bastante MariaRapaz e lembro-me de, ainda bem pequena, andar por montes e vales com outros miúdos, a explorar os caminhos da Arrábida contíguos à Secil, onde cresci.
O primeiro amor…
Um miúdo como eu, nos primeiros anos do Liceu, de sorriso tímido e florinha romântica…
E o primeiro emprego…
O meu primeiro trabalho remunerado foi ensinar Português e dar uma panorâmica da história e da cultura portuguesas a uma rapariga belga, que vivia às temporadas na Quinta da Comenda (Filha mais velha dos proprietários, os Condes d´Armand). Depois concorri para Professora do recém criado Ciclo Preparatório, por ser esse, então, o nível de ensino com métodos mais avançados e aí fiquei. Ser Professora não foi apenas um emprego (tinha ao tempo alternativas bem melhor pagas), mas foi, sim, uma vocação que não me arrependo de ter seguido.
Como é a sua casa? Como a define?
A casa é um espaço em harmonia comigo, confortável, onde estou rodeada pelos livros e por objectos que acompanharam a minha Família e têm feito parte da minha vida.
O que pensa do mundo?
Vejo o mundo como uma entidade global que congrega muitos e diversos mundos em correlação. E olhando para esse mundo global de constantes erupções de violência, eivado de zonas de grande perturbação, onde fome e indignidade das condições de vida contrastam de forma gritante com opulência e desperdício, percebemos como é urgente a acção transformadora do Homem, primeiro de si próprio e logo sobre o seu pequeno mundo mais próximo. Como, apesar de tudo, acredito nas pessoas, quero acreditar na efectividade dessa acção transformadora e que o mundo poderá tornar-se progressivamente melhor.
Sente-se realizada humana e profissionalmente?
É evidente que olhando para trás pensamos sempre que poderíamos ter feito mais e melhor. Posso no entanto dizer que quando fechei o capítulo da minha vida profissional, senti que tinha realizado o meu trabalho de Professora com amor e com o gosto de ajudar crianças/jovens a crescer e que, por isso, tinha valido a pena. Dou graças a Deus, pela Família que tenho, as filhas, os netos e os genros, bem como pelos amigos que fui encontrando e com quem tenho caminhado. Também na cidadania, no voluntariado, nas áreas da cultura e da solidariedade, tenho-me sentido enriquecida pelo que tenho feito e vou fazendo, onde e como sou capaz, e assim será enquanto puder.
Como se resolve a crise?
Não será com uma varinha de condão. Seria bom mas não é assim. Também não será apenas com medidas económicas. Esta é também uma crise de valores que já vem de longe. Temos que passar por mudanças de mentalidades e de posturas com menos ganância, arrogância e corrupção desde políticos a empresarios, mídia e cidadãos comuns. A cura é difícil mas as melhoras talvez sejam possíveis. A sociedade deve focar-se mais na produtividade e competividade em detrimento dos ganhos fáceis tendo em conta os valores da solidariedade e dignidade humana.
Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?
O Homem parece ter tido sempre a noção que existe uma força superior que o transcende e que poderá ter levado à sua criação e à do mundo. A essa força chamamos Deus, qualquer que seja a sua forma de representação nas várias religiões. Assumo-me como cristã e católica e não vejo Deus, apenas como criador mas também como um ideal de amor e, por isso, creio que recriamos Deus, sempre que nos damos aos outros com amor.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Não sei. Todas as decisões que tomei foram as que a cada momento me pareceram as mais corretas. Se pudesse voltar atrás e tivesse que voltar a decidir certamente teria outros elementos de ponderação.
Que faz no presente e que projectos para o futuro?
Sou presidente da Liga dos Amigos do Fórum Luísa Todi, cuja missão está à beira de se dar por concluída. Sou professora na Universidade Sénior, voluntária da Cáritas e faço parte dos corpos sociais da Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão. Divido-me entre cidadania cultural e de solidariedade e a família, especialmente os meus netos. Quanto a projetos para o futuro são os quase imediatos tendo em conta a minha idade.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino
Munique
Um livro
Quarteto de Alexandria (Lawrence Durrell)
Uma música
Concerto nº 4 para piano e orquestra (Beethoven)
Um ídolo
Não tenho
Um prato
Peixe grelhado de Setúbal
Um conceito
Dar atenção ás coisas boas que nos rodeiam e nunca transformar uma coisa má numa coisa péssima