“SINTO QUE JÁ FIZ COISAS MUITO INTERESSANTES”
Eduardo Santana é um dos artistas que partilha palcos e estradas pelo país e junto das comunidades portuguesas radicadas além fronteiras. Teve uma infância difícil depois da morte do seu pai. A mãe., lutadora como faz questão de sublinhar criou três filhos com denodo e esforço, o que acabou por garantir-lhes uma vida feita a pulso mas com uma infância feliz apesar das vicissitudes. Foi um bom aluno na escola e isso deu-lhe o discernimento para perceber que o mundo é feito por disparidades gritantes que o preocupam e afligem. É crente em Deus mas não compreende que apesar de toda a sua fé não consiga realizar objectivos que outros sem fé e com desprezo pelos valores católicos conseguem atingir
Como foi a sua infância?
Nasci em Monchique, no Algarve e fui morar para Lisboa com 18 meses. Aos 2 anos fomos para a Costa da Caparica, onde vivi até ser adulto. Tive uma infância difícil. A minha mãe ficou viúva muito cedo e com 3 filhos pequenos para criar. Nunca passei fome mas sentíamos algumas dificuldades. Lembro-me de andar descalço aos 5 anos. Só tinha os sapatos para calçar aos domingos. No entanto fui um ótimo aluno na escola. Brinquei bastante com os meus amigos. Acho que no meio de tantas dificuldades tive uma infância feliz. A minha mãe foi sempre uma grande lutadora.
O primeiro amor…
Era a Lurdinhas. Ainda hoje somos amigos. Tinhamos 6 anos. Lembro-me que o namoro durou até aos 11 anos. Sofria bastante com os ciúmes que tinha por ela.
E o primeiro emprego…
Numa mercearia com 10 anos. Ía para a escola de manhã e para o trabalho à tarde. Aos 11 anos comecei a trabalhar a tempo inteiro. Ganhava 70 escudos por semana.
Como é a sua casa? Como a define?
É uma casa onde me sinto bem. É a casa possível que posso ter nesta altura. É espaçosa, confortável e com varandas como eu gosto. Tem tudo o que precisamos para o dia a dia. Fica no 3º andar de um prédio. De certa forma é o meu refúgio. A decoração é ao gosto da minha mulher que, por sinal, tem muito bom gosto.
O que pensa do mundo?
Vejo o mundo de duas maneiras: por um lado acho-o surpreendente, por outro sinto uma grande desilusão. Acho fantástico o desenvolvimento das novas tecnologias como as telecomunicações, a própria internet. Também ao nível da descoberta de novos planetas me sinto surpreendido. A desilusão passa pelo fato de existirem ainda as guerras, muita fome e desigualdades. Isso aflige-me. O fato de perceber que os estadistas que gerem o mundo preocupam-se pouco pelo ser humano também me aflige. As disparidades sociais são gritantes. As descobertas na medicina ainda não acompanham as grandes preocupações ao nível das doenças terríveis e mortais.
Sente-se realizado humana e profissionalmente?
Sinto que já fiz coisas muito interessantes. Consegui atingir etapas importantes tanto a nível profissional como humano. Os meus espetáculos, os meus discos, as minhas viagens e as amizades fazem-me sentir bem comigo mesmo.
Como se resolve a crise?
Com muito trabalho, dedicação e sacrifício. No entanto, a forma mais fácil de resolver será quando os estadistas pensarem que têm que tirar mais aos ricos e menos aos pobres e à classe média.
Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?
Sou católico não praticante. No entanto, acredito que Deus existe e que faz muito por nós e pela humanidade. Mas é necessário ter fé para perceber esta ideia. Eu sou um homem de fé, sinto que atingi vários objetivos mas há muitos que, apesar da minha fé, não consigo concretizar e isso faz-me muita confusão. Há quem não seja crente, não tenha fé, goze, inclusivé, com os valores católicos e tenha uma vida farta e de grande dimensão.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Não mudaria nada. Queria voltar a ser artista, ter os filhos que tenho e os amores e desamores que tive, as viagens que fiz e as amizades que mantenho. Faria tudo como fiz até aqui.
Que faz no presente e que projectos para o futuro?
Continuo a cantar e assim irei continuar até que a voz e as forças me permitam. A minha vida será sempre ligada à música.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino
Brasil
Um livro
O segredo (Rhonda Byrne)
Uma música
O meu sucesso “Eh! Carapau” (José Orlando/Carlos Soares)
Um ídolo
Eusébio
Um prato
Iscas à portuguesa
Um conceito
Honestidade