“AS CRISES SÃO CRIADAS PARA FINS ECONÓMICOS”
Eusébio Candeias nasceu em pleno Alentejo. Teve uma infância que recorda com carinho tendo, inclusivé, sido um bom aluno na escola primária. Foi vereador no município de Setúbal e presidente de Junta de Freguesia. Sente-se um homem realizado com aquilo que a vida lhe foi dando. Tem do mundo uma imagem pessimista e acredita que a crise só terá solução quando o capitalismo deixar de dominar. “Paredes de vidro”, de Álvaro Cunhal é o seu livro preferido e adora todos os fados de Carlos do carmo.
Como foi a sua infância?
Nasci em Santo André, na herdade da Cascalheira. Tive uma infância de malta com poucos recursos. Os meus pais eram trabalhadores agrícolas. O meu pai era o feitor/encarregado de herdade, tinha uma certa posição. Acabei por ter algum privilégio. Brincava com os filhos dos patrões. Penso que foi uma infância algo feliz. Fui um bom aluno na escola. Tive sempre muita facilidade em aprender.
O primeiro amor…
Tive namoricos da monda que não chegaram à ceifa… Várias vezes o coração bateu mais rápido. Coisas próprias da juventude.
E o primeiro emprego…
A guardar animais. Recebia uma remuneração que deveria ser entre os 20 e os 30 escudos na altura, por mês. Depois trabalhei no campo.
Como é a sua casa? Como a define?
Tranquila, modesta e inserida numa cooperativa de habitação. É uma casa simples e confortável. É o meu ponto de abrigo. Agora passo grande parte do meu tempo na casa que era dos meus pais no Alentejo.
O que pensa do Mundo?
Tenho uma visão pessimista tendo em conta todos os conflitos que existem em termos de guerra e que são de interesse como o petróleo e os diamantes que falam mais alto. Os direitos das pessoas são relegados para segundo plano. Os mais poderosos do mundo como os Estados Unidos, com o Trump, não respeitam o ser humano. Mas acredito que tudo isto são ciclos e que as pessoas hão-de conseguir vencer estes direitos.
Sente-se realizado humana e profissionalmente?
Sim. Tendo em conta todo o meu passado que não renego, desde trabalhar no campo, nas obras e na ostra, até chegar a vereador do município e presidente de junta, sou uma pessoa que não se queixa do que a vida me foi dando. Sinto-me realizado.
Como se resolve a crise?
Só se resolve se estas pessoas que são ditadores, que não respeitam os nossos direitos forem banidas do poder. As crises são criadas para fins económicos. Enquanto o capitalismo dominar a crise não vai acabar.
Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?
Não sou crente em qualquer religião. Acho que isso é uma forma de enganar o pagode. Acho que o Homem criou a imagem de Deus, que foi ganhando uma enorme dimensão. Hoje as religiões são um negócio.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Nada. Sinto-me realizado. O que fiz voltaria a fazer.
Que faz no presente e que projetos para o futuro?
Para além de continuar com alguma atividade na Assembleia Municipal, passo o meu tempo na tal casa do Alentejo tratando das árvores, semeando, enfim, vivendo o melhor que posso.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino:
Alentejo
Um Livro:
Paredes de vidro (Álvaro Cunhal)
Uma Música:
Todos os fados do Carlos do Carmo
Um Ídolo:
Não tenho
Um prato:
Sardinhas assadas
Um conceito:
Que todos estivessem bem