“O ASSOCIATIVISMO É A MINHA PAIXÃO”
João Camolas dedicou toda a sua vida ao associativismo do concelho de Palmela, onde nasceu e de onde guarda gratas recordações. Vendeu jornais pelas ruas da vila e chegou a fazer partes dos corpos redatoriais de algumas publicações. A sua esposa foi o seu primeiro e único amor e os seus netos são a luz maior dos seus olhos. Sente que fez algo de importante pelos seus semelhantes pelo que se sente bem consigo próprio. Para si o mundo é belo mas a ambição desmedida do Homem torna-o bastante desigual. A crise resolve-se com bons políticos e boas políticas e como é agnóstico respeita o Criador. Não dispensa uma boa caldeirada á setubalense e, ainda, adora ouvir os Beatlles.
Como foi a sua infância?
Nasci há 78 anos, na serrana e linda Vila da Palmela, contraforte da esplendorosa Serra da Arrábida. Oriundo de uma família humilde, o meu pai era ferrador e a minha mãe doméstica. Criado com mais três irmãos duas raparigas e um rapaz, que apesar das dificuldades inerentes à época tivemos uma infância feliz. Fiz a escolaridade obrigatória na época que era a 4.ª classe, com relativa facilidade. Quis ir estudar para Setúbal, onde ainda me matriculei, mas o orçamento familiar não podia suportar tal despesa e assim se gorou o meu primeiro sonho.
O primeiro amor...
O meu primeiro e único amor foi com quem vou festejar dentro de dias os meus 53 anos de casamento, é a minha mulher Maria Aurélia, que me atura hà perto de 60 anos, mãe dos meus dois filhos e avó dos meus 4 netos.
E o primeiro emprego...
O meu primeiro emprego, foi a vender jornais pelas ruas de Palmela, com uma sacola ao ombro. Tinha 11 anos e ganhava noventa escudos por mês.
Como é a sua casa? Como a define?
É uma boa casa bastante grande e arejada, na melhor zona de Palmela. Com uma vista maravilhosa sobre Lisboa. Nela tenho tudo o que preciso para ser feliz. Pena ser um 3.º andar sem elevador, a idade não perdoa. Vivo rodeado de recordações dos meus antepassados, vejo-os todos os dias pelos retratos que tenho espalhados pela casa, juntamente com filhos, noras e netos, pois gosto de ter a família junto de mim.
O que pensa do Mundo?
O Mundo é belo. A ambição desmedida e hipócrita do homem é que faz dele tão desigual, onde a riqueza e a miséria continuam a imperar sobre os povos. A evolução tecnológica e a todos outros níveis, nos últimos cinquenta anos foi fantástica, prenúncio de que a capacidade do homem é impressionante na sua evolução. Queremos acreditar que num futuro próximo possa levar a sua inteligência para a vertente mais humana da solidariedade e da partilha. Vamos continuar com essa esperança e a fazer a nossa parte para que tal aconteça.
Sente-se realizado humana e profissionalmente?
Sinto que fiz alguma coisa na vida pelos meus semelhantes, daí estar de bem comigo em relação aos meus deveres cívicos. Continuo, porém, teimosamente, a querer acreditar no ser humano, embora muitas vezes me sinta bastante desiludido.
Profissionalmente sempre procurei cumprir os meus deveres e penso que consegui, pois sempre me empenhei por dar o melhor de mim no que fazia.
Como se resolve a crise?
Portugal, sempre foi um País pobre e em crise. Portanto desde que me conheço que a crise me acompanha. Tenho toda a vida procurado resolver a minha crise, e tenho dentro do possível resolvido as que se me apresentam. A crise generalizada de cada um, cabe aos mesmos resolvê-la, penso eu. Já a crise do nosso País é mais complexa, e dado o atraso com que a herdamos nas últimas décadas, é difícil prever o fim da crise. Para isso, bons políticos e boas políticas, precisam-se.
Deus criou o homem, ou foi o Homem quem criou Deus?
Há algo que deve dominar o Universo, para que o Homem se respeite. Se é Deus, que domina todas as religiões e todos o respeitam, eu como agnóstico que nunca me debrucei sobre o assunto, e como homem atento ao que se passa ao meu redor, respeito o Criador.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Num exercício de memória do passado ao presente, talvez algumas decisões que tomei. Hoje não as tomaria, mas na altura achei por bem tomá-las. O associativismo sempre foi e é a minha paixão, mas essa dedicação prejudica e que de maneira a vida familiar, se não for conduzida de forma equilibrada. Nesse sentido tive a sorte e agradeço à minha mulher ter feito também o meu papel em muitas ocasiões que faltei na educação dos meus filhos. Sinto que nas minhas obrigações de pai muitas vezes faltei ao meu dever, pelo empenho que dedicava ao associativismo. Hoje procuro compensar, na minha condição de avô, acompanhando todos os passos dos meus quatro netos, que já me dão grandes alegrias como bons estudantes e excelentes músicos.
O que faz no presente e que projectos tem para o futuro?
Continuo ligado ao associativismo, mas só como elemento dos corpos sociais, com poucas funções.
Apesar da minha provecta idade, não deixo de acompanhar presencialmente a maioria dos muitos eventos e de opinar sobre todos os assuntos inerentes às coisas da minha terra.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino
Paris
Um livro
Guerra e Paz (Leon Tolstoi)
Uma música
BEATLES
Um ídolo
O meu saudoso pai
Um prato
Caldeirada à Setubalense
Um conceito
O primeiro passo para o bem é não fazer o mal