“DEUS É UM MITO QUE O HOMEM CRIOU”
Joaquim Palma é um empresário do ramo da panificação. Oriundo do concelho de Mértola, nasceu numa pequena aldeia alentejana, mas está radicado na nossa cidade desde há muito. Com 16 anos inscreveu-se como voluntário na Marinha e mais tarde arriscou em tornar-se empresário obtendo algum sucesso construindo uma vida com honestidade e desafogo. Tem do mundo a ideia de que a globalização apenas beneficia os grandes países. Quanto à resolução da crise pensa que os políticos devem olhar mais pelo povo e menos por si próprios e por quem os apoia. Solidariedade é o seu principal conceito na vida.
Como foi a sua infância?
Nasci numa pequena aldeia no concelho de Mértola, no Alentejo. Os meus pais eram pequenos agricultores. Recordo-me das brincadeiras com os meus amigos e, como gostava muito da vida do campo ajudava os meus pais e os meus tios. Tinha o vício da agricultura. Na escola fui um aluno razoável. Não tive a possibilidade de continuar os estudos para além da 4ª classe por dificuldade de transporte para Mértola, onde ficava a escola preparatória. Na altura não haviam carros na minha aldeia.
O primeiro amor...
Foi por uma rapariga lá da aldeia. Acho que tinha 12 anos. Foi amor à primeira vista. Andávamos à escola. Aquilo eram uns beijinhos e pouco mais.
O primeiro emprego...
Como voluntário na Marinha, com 16 anos. Ganhava 600 escudos.
Como é a sua casa? Como a define?
É uma vivenda em Aires, confortável, o meu refúgio e o local de encontro da família. Tenho duas filhas, ambas casadas que se reúnem lá em casa no Natal e noutras ocasiões de festa.
O que pensa do mundo?
Vejo as coisas muito difíceis. A globalização pode trazer algo de benéfico aos países mais desenvolvidos, mas a outros como o nosso não traz vantagens. Isto resulta numa desigualdade. Os países maiores é que decidem e, naturalmente, ficam com a melhor parte. Há um desequilíbrio social evidente. Não se vislumbram grandes perspetivas para os anos mais próximos.
Sente-se realizado humana e profissionalmente?
Penso que sim. Fui empregado por conta de outrem durante muitos anos. Depois criei a minha empresa em 1988. Tornei-me um pequeno empresário com algum sucesso. Não estou arrependido. Como homem tenho um bom casamento, as minhas filhas e os meus netos. Sou um homem feliz.
Como se resolve a crise?
Quando existirem consensos, ou seja, quando os políticos passarem a respeitar-se e a respeitar os eleitores, o que agora não acontece. Estou de acordo que sejam os partidos políticos a governar mas deveriam pensar nos reais problemas das pessoas e do país e menos neles próprios e nas élites que os apoiam.
Deus criou o homem, ou foi o homem que criou Deus?
Deus é um mito que o Homem criou.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Tenho uma ambição limitada à minha condição de pessoa humilde. Com as poucas possibilidades que tive consegui fazer a minha vida com desafogo e tranquilidade. Por isso talvez não mudasse grande coisa.
O que faz no presente e que projetos tem para o futuro?
Sou empresário no ramo da panificação e faço parte dos órgãos sociais da Associação dos Industriais da Panificação de Lisboa. Pretendo continuar a apoiar a minha família e os amigos e, muito particularmente, os meus netos.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino
Cuba
Livro
A queda de gigantes (Ken Follet)
Uma música
Os Vampiros (Zeca Afonso)
Um ídolo
Vasco Gonçalves
Um prato
Bacalhau à Braz
Um conceito
Solidariedade