“QUALQUER DIA TRABALHAMOS POR UMA TAÇA DE ARROZ”
O Comandante José Henrique Santos é um setubalense nascido no Hospital da cidade, feito homem entre brincadeiras e trabalho. Recorda-se que nos seus tempos de infãncia estimulava-se a convivência entre os jovens. O seu primeiro amor foi uma brasileira, filha de pai imigrante e que lhe deixou saudades após o regresso ao país de origem. Sente-se cansado da vida de bombeiro, que diz ser de desgaste rápido e das sirenes. Gostava de ter uma pedra de peixe no Mercado do Livramento. Pensa que há muita ganância no mundo, que a crise se resolve com honestidade e que a vida sem Deus seria mais difícil
Como foi a sua infância?
Nasci no Hospital de S. Bernardo. Morei no Faralhão, até aos 3 anos de idade e depois vim morar para Setúbal. Andei na antiga escola do Peixe Frito. Tinha muitos amigos. As brincadeiras na altura eram muito diferentes das de hoje. Estimulava-se a brincadeira em grupo. A minha família era muito grande. Éramos 7 irmãos. O meu pai reformou-se por invalidez muito cedo . Passámos algumas dificuldades.
O primeiro amor…
Tinha 17 anos e aconteceu quando andava na secundária da Bela Vista. Foi por uma rapariga da minha turma, que era brasileira. O pai era imigrante português. Namorámos um ano lectivo. Depois regressaram ao Brasil, com grande pena minha.
E o primeiro emprego…
Na oficina do Fernando Chaves, que é o pai do famoso piloto Matos Chaves. Tinha 12 anos e trabalhava aos fins de semana a lavar peças. Ganhava 5 contos por mês.
Como é a sua casa? Como a define?
É uma casa acolhedora, de família. Não gostamos de grandes luxos mas podemos abrir a nossa casa a toda a gente. Colecciono garrafas de bebdas, embora não beba.Devo ter mais de 200 garrafas numa garrafeira particular.
O que pensa do mundo?
Penso que as pessoas se preocupam muito com os bens materiais. Há muita ganância e pouca tolerância.Toda a gente quer mais dinheiro e tudo gira à volta disso. Nos últimos anos tem-se visto que as coisas funcionam à volta da especulação e os que menos têm acabam por pagar mais. Voltámos à época dos senhores feudais.
Sente-se realizado humana e profissionalmente?
Sinto-me realizado mas a nível profissional começo a sentir-me cansado. Ser bombeiro é uma profissão de desgaste rápido, quer fisíco, quer mental. Mas como homem sinto-me realizado. Sou muito bem casado e tenho dois filhos que são a luz dos meus olhos.
Como se resolve a crise?
A profissão de bombeiro é aquela que merece maior confiança por parte das pessoas. Ao contrário, a de político é a que merece menos credibilidade. A crise resolvia-se com honestidade da classe política. Os interesses instalados são poderosos. É mais fácil ir ao bolso de quem tem menos recursos. As grandes fortunas e as grandes empresas continuam por taxar. A mão de obra é cada vez mais barata. Temos que inverter esta mentalidade. Qualquer dia trabalhamos por uma taça de arroz.
Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?
Quero acreditar que Deus,c riou o Homem. Nesta altura de dificuldades as pessoas agarram-se á fé. Sou católico não praticante e acredito em Deus, pelos valores que me foram transmitidos pelos meus pais. Sem Deus, a vida é mais difícil.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Mudaria algumas coisas. Teria aproveitado o facto de ter sido militar e teria continuado como praça no quadro para melhorar a minha vida.
Que faz no presente e que projectos para o futuro?
Sou comandante do Bombeiros Voluntários de Setúbal. Gostava de arranjar em breve outra alternativa profissional. Estou cansado de sirenes. Adorava ter uma pedra de peixe no Mercado do Livramento, que é o sítio mais bonito da cidade. Gosto imenso da pesca e de trabalhar com o peixe.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino
Grécia
Um livro
A arte da guerra (Maquiável e Sun Tsu)
Uma música
Summer of 69 (Brain Adams)
Um ídolo
O meu pai
Um prato
Caldeirada á setubalense
Um conceito
Não faças aos outros o que não gostavas que te fizessem a ti