“O HOMEM TEM QUE OLHAR PARA SI E RESPEITAR-SE”
Manuel Véstias nasceu num monte alentejano. Privou com muitas limitações e começou a trabalhar muito cedo. Os seus pais eram analfabetos mas muito importantes na forma como desenvolveu o seu crescimento. Na escola foi um aluno razoável e no mundo laboral tem realizado o seu caminho a preceito. É autarca, técnico de qualidade e pequeno empresário. Não é crente e por isso acredita que foi o Homem quem criou o enigma chamado Deus. Depois de cumprir o seu atual mandato na autarquia do Sado, sente-se com coragem para abraçar projetos sociais. Álvaro Cunhal é o seu ídolo.
Como foi a sua infância?
Sou natural do concelho do Alandroal, Santiago Maior, distrito de Évora. Nasci no monte Alto, monte alentejano. A minha mãe era criada de servir e o meu pai trabalhador agrícola. Fiz a escola num local que se chama Seixo. Fui um aluno razoável. Os meus pais eram analfabetos. Existiam muitas dificuldades a todos os níveis. Felizmente nunca passei fome mas tive uma infância com muitas limitações. Tínhamos uma alimentação sem frigorífico. Não havia casas de banho, nem luz elétrica. Tínhamos um fogão a petróleo. Trabalhava-se muito, de sol a sol. Vivi tudo isto e hoje sinto uma certa revolta.
O primeiro amor…
Não foi a minha mulher, foi uma rapariga que era vizinha da minha tia que vivia a 5 km de distância. Ainda namorámos algum tempo. Eu era bastante namoriscadeiro mas com responsabilidade. Sou casado há 35 anos.
E o primeiro emprego…
Desde que me lembre sempre trabalhei. Depois da escola primária não quis continuar os estudos e aos 11 anos fui guardar vacas com o meu pai. Ganhava 500 escudos por mês.
Como é a sua casa? Como a define?
Vivo numa cooperativa de habitação numa moradia de habitação social. Tenho um quintal com horta e com árvores. É uma casa muito acolhedora de portas abertas para a família e para os amigos. Tenho todas as condições necessárias a uma boa vivência.
O que pensa do Mundo?
Olho para o mundo com muita preocupação. Quem está neste planeta não se respeita. Quando nascemos não temos nada e passamos a usufruir dos bens familiares. O Homem tem que olhar para si e respeitar-se e inventar a sua sobrevivência. Preocupa-me a fome, a guerra, a poluição e a exploração do Homem pelo Homem.
Sente-se realizado humana e profissionalmente?
Sem dúvida e muito afirmativo. A partir do momento em que fui tropa sempre trabalhei por conta de outrém. Estive sempre ligado ao movimento associativo. Sou do Partido Comunista Português desde 1982 e autarca desde 1997. Sou um homem realizado e de bem com a vida.
Como se resolve a crise?
Olhando para o país com investimento que terá que ser superior às amortizações. A nossa competitividade deve ser ativa e atualizada. Os investimentos têm que criar empregabilidade que gera consumo. Os empresários têm que ser dignos e de referência e gerar postos de trabalhos dignos.
Deus criou o Homem, ou foi o Homem quem criou Deus?
Não sou crente. Acredito no Homem. Acho que foi o Homem quem criou esse enigma.
Se pudesse voltar atrás o que mudaria na sua vida?
Não quero voltar atrás. Nunca me senti perdido. Só se fosse para recuperar a minha mãe. Só nesse sentido.
Que faz no presente e que projetos para o futuro?
Sou presidente da Junta de Freguesia do Sado, trabalho na AutoEuropa, como técnico de qualidade e sou micropequeno empresário. Sou um homem de desafios. Estou no último mandato na junta que quero levar até ao fim sempre com a mesma dignidade e humildade. Depois, certamente aparecerão projetos sociais para realizar.
CAIXA DAS PALAVRAS
Um destino:
Cabanas de Tavira
Um Livro:
Paredes de Vidro (Álvaro Cunhal)
Uma Música:
Grândola Vila Morena (José Afonso)
Um Ídolo:
Álvaro Cunhal
Um prato:
Açorda de alho com sardinhas assadas
Um conceito:
Respeitar os outros